segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Famílias enterram corpos de seus mortos no quintal de casa na região serrana do Rio de Janeiro

Seis dias depois da chuva que devastou cidades da região serrana do Rio de Janeiro, moradores de áreas isoladas estão enterrando parentes e amigos no quintal de casa. É assim em Santa Rita, uma região de sítios em Teresópolis que, depois de sucessivos deslizamentos que derrubaram pontes e estradas, transformou-se em pedaços de terra ilhados. Só é possível chegar à localidade de helicóptero ou através de trilhas pela mata, em um percurso de oito horas ida e volta. Com a impossibilidade de acesso do Instituto Médico Legal para recolher cadáveres, com a prioridade de resgatar pessoas com vida e com o estado avançado de decomposição, os corpos têm sido enterrados em covas rasas nas ruínas das casas. "Enterrei meus quatro vizinhos no quintal. Já estavam lá desde terça, ninguém suportava mais o mau cheiro", disse o lavador de carros Edson Aquino, abrigado em um estádio de Teresópolis. "Quem não reconheceu os mortos deixou tudo para trás, por cima da terra. Em Santa Rita é só corpo e lama. Nunca pensei que tivesse de enterrar meus parentes em casa", afirma a doméstica Suzana da Silva Oliveira. No IML de Teresópolis, parentes reclamam da demora na identificação dos corpos e da burocracia para liberá-los. Na entrada do instituto médico, uma cartolina improvisada dá a orientação aos familiares em dez pontos. Depois do reconhecimento do corpo, é preciso preencher um ficha, que deve ser entregue a um papiloscopista. O IML então emite um documento que deve ser levado à Defensoria Pública, que por sua vez emite um alvará para liberação do cadáver. É o império da burocracia. Se o Brasil um dia entrasse em guerra, perdia a guerra em dois dias, por causa da burocracia estatal.

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