sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Juízes alertam que projeto para repatriar até US$ 100 bilhões vai anistiar corruptos

Juízes federais que atuam em processos sobre crimes financeiros e desvios de recursos da União alertam para "efeitos nocivos" do projeto Cidadania Fiscal (354/09), que avança no Senado e contempla com anistia tributária e penal contribuintes brasileiros que repatriarem valores mantidos no Exterior e não declarados à Receita. O governo estima em US$ 100 bilhões a fortuna que circula fora do País. "O projeto é uma vergonha", classifica o juiz Sérgio Moro, titular da 2ª Vara Criminal Federal de Curitiba, especializada em processos contra réus por lavagem de dinheiro, evasão de divisas e fraudes: "Embora a anistia seja destinada a crimes fiscais, de descaminho e financeiros, incluindo a evasão de divisas, na prática vai favorecer todo tipo de criminoso". Na avaliação de Moro, o projeto poderá contemplar fraudadores do Tesouro e políticos que remeteram recursos públicos para paraísos fiscais: "Um corrupto não vai internar o dinheiro no País declarando ser ele produto de corrupção. Vai ser muito difícil investigar e discriminar a origem desse dinheiro". O projeto concede extinção da punibilidade dos respectivos crimes contra a ordem tributária e crimes contra a administração pública também relacionados com a retificação da declaração. Com relação aos bens e direitos declarados, serão mantidas a extinção da punibilidade ou a anistia penal ainda que a autoridade fiscal verifique que o patrimônio do contribuinte no Exterior não tenha sido declarado na sua integralidade. Os magistrados assinalam que o projeto não exige que seja comprovada a origem do dinheiro nem que se esclareça como ele foi parar no Exterior. Ao tratar da anistia, o projeto é taxativo: "Torna-se absolutamente imperioso dar ao contribuinte a segurança jurídica de que sua adesão afasta, inequivocamente, a aplicação de penalidades, principais ou acessórias de natureza tributária e, particularmente, de caráter penal". O projeto é de autoria do senador Delcídio Amaral (PT-MS).

Um comentário:

julio disse...

Só resta saber se autor do projeto não é parte interessada ou está a serviço de amigos corruptos.
O jeitinho "corrupto" brasileiro parece que está no DNA do político. Não é possível que se venha premiar o infrator. Ilegalidade é ilegalidade, senador - não reeleito - Efraim Morais!Temos é que acabar com essa falsa justiça salomônica; com essa leniência irresponsável com os infratores. Ladrão é ladrão, bandido é bandido, sonegador é sonegador, e a lei foi feita para ser cumprida. Quem desrespeita as regras jurídicas não pode ser beneficiado com qualquer isenção. Ou se moraliza este país, fazendo valer o cumprimento legal, ou se declare, na Constituição, que as normas devem ser flexibilizadas de acordo com o “freguês”.