quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Seca no Amazonas faz surgir gravuras de 7 mil anos em pedras do rio Negro

Uma raridade arqueológica foi descoberta às margens do rio Negro, em Manaus, graças à vazante extrema deste ano: gravuras rupestres nas rochas localizadas nas proximidades do encontro das águas. O local é mais conhecido como “área das lajes” e pertence à União. Entre os desenhos está uma série de rostos humanos gravados nas pedras localizadas à beira do rio. Também foi possível identificar figuras geométricas, espirais e desenhos sinuosos em forma de cobra. Com a subida do rio Negro, os desenhos começam a ser cobertos pela água. No início da semana passada, o subgerente do Centro de Projetos e Estudos Ambientais do Amazonas (Cepeam), um departamento da Associação Brasil Soka Gakkai, Akira Tanaka, registrou em fotografia os entalhes de vários “rostos” que haviam sido descobertas por um pescador que passava pelo local. Mas, na segunda-feira, a área já estava submersa. Em outra pedra onde o nível do rio ainda não chegou, continuavam visíveis as gravuras. A área das lajes localiza-se próximo a uma praia, nos fundos do Cepeam, e ao lado do Mirante da Embratel, localizado no bairro Colônia Antônio Aleixo, Zona Leste. A bióloga Elisa Wandeli frisou que a descoberta é inédita, pois as peças mais comuns encontradas na área são cerâmicas e urnas funerárias, objetos que fazem parte do chamado “Período Paredão”, que compreende o século 9º D.C. “Estas são inscrições rupestres na pedra, em forma de gravuras e não de pinturas. Pode ser uma forma de comunicação social. Mas isto só os arqueólogos podem dizer”, observou. O presidente da Sociedade de Arqueologia Brasileira, Eduardo Góes Neves, disse que trata-se de “gravuras de grande importância científica, datadas de épocas mais recuadas, quando o clima era um pouco mais seco na região”. Para Neves, as gravuras, foram talhadas provavelmente entre o período compreendido entre 7 e 3 mil atrás. O historiador André Bazzanela, ex-superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), disse que os “petróglifos cujo desenho lembra um rosto humano geometrizado”, como ele prefere chamar as gravuras, recorda os encontrados em Itacoatiara, onde também há muitos rostos gravados em pedra, alguns deles em quadrados. Mas ele destacou que para qualquer análise é preciso que seja realizada uma pesquisa mais aprofundada. “É importante ver que a inscrição está em um abrigo e não na face exposta da rocha, ao contrário das espirais e linhas sinuosas encontradas também na Ponta das Lajes. Esta situação tem, com certeza, um significado, uma vontade de perpetuação”, comentou André Bazzanela.

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