terça-feira, 9 de novembro de 2010

Policia Federal procura em cemitério paulista os restos de dez desaparecidos políticos

Peritos do Instituto Nacional de Criminalística, vinculado à Polícia Federal, iniciaram nesta segunda-feira pesquisa no Cemitério de Vila Formosa, o maior da América Latina, em São Paulo, em busca de sepulturas onde estariam corpos de pelo menos 10 desaparecidos políticos no auge da repressão militar. A missão é coordenada por Eugênia Augusta Fávero, procuradora da República. "Estamos dando início a um trabalho de verificação do solo porque constatamos que cerca de 10 desaparecidos foram sepultados aqui em quadras que ainda conservam algumas sepulturas originais", explicou a procuradora. Segundo Eugênia, o Ministério Público Federal recebeu informações sobre dissidentes que teriam sido enterrados clandestinamente, como indigentes, em uma quadra identificada pelo número 11. "Há suspeitas de que essa quadra pode ter sido totalmente descaracterizada propositalmente por volta de 1976. Já ingressamos com ação contra o município e o Estado porque, ao que tudo indica, houve mesmo uma manobra de ocultação”, disse ela. A procuradora destaca que um dos corpos que pode estar em Vila Formosa é o de Virgílio Gomes da Silva, o Jonas, apontado como líder do sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, ocorrido em setembro de 1969. Na semana passada, uma força tarefa do Ministério Público Federal ingressou com ação na Justiça em que pede cassação da aposentadoria de um grupo de militares das Forças Armadas e da Polícia Militar do Estado de São Paulo por mortes ou desaparecimentos forçados de pelo menos seis militantes esquerdistas, entre eles, Virgílio, que foi capturado pela Operação Bandeirante, criada e coordenada pelo comando do II Exército no início dos anos 70. A família dele obteve documentos que apontam que o corpo de Virgílio teria sido enterrado no Vila Formosa e estaria atualmente em uma quadra renumerada do cemitério, ou em um ossário não identificado. "A primeira etapa da inspeção no cemitério consiste em uma análise geofísica, com uso de radar, para alcançar e verificar o que há nas profundidades do solo", disse Eugênia Fávero. Os peritos da Polícia Federal que passaram a tarde desta segunda-feira no cemitério de Vila Formosa não são da área de medicina legal, mas da geofísica. Eles têm a incumbência de localizar as sepulturas. "A fase seguinte será a exumação", adianta Eugênia Augusta Fávero: "Tivemos acesso a documentos que levam à suspeita de que outros desaparecidos teriam sido sepultados em outras quadras que sofreram alterações. Ruas do cemitério foram completamente suprimidas. Por enquanto estamos fazendo um desenho gráfico, um mapeamento para podermos chegar ao estado original das quadras e localizar os terrenos. É provável que a partir da próxima semana daremos início a exumações”.

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