domingo, 31 de outubro de 2010

A petista Dilma Rousseff é eleita presidente, a incógnita se estende sobre o País

A presidente eleita do Brasil neste domingo, a petista Dilma Rousseff, recebeu mais de 55 milhões de votos dos 136 milhões de eleitores registrados para esta eleição. Com 99,14% das urnas apuradas, Dilma alcançou 55,96% dos votos válidos (55.229.355 votos), enquanto José Serra (PSDB) teve 44,04% (43.456.857). Um gigantesco montante de 28.922.078 eleitores brasileiro deixou de votar, absteve-se na eleição, perfazendo um total de 21,44% do eleitorado inscrito. Em branco votaram 2.445.080 eleitores, para os quais, nenhum dos dois candidatos representava uma solução, perfazendo 2,31%. E 4.660.654 eleitores chegaram até a urna e anularam o voto, perfazendo 4,40% do eleitorado nacional inscrito. No total, 26,15% dos eleitores não votaram em ninguém. Somando-se esse contingente aos 44,04% dos votos obtidos pelo oposicionista José Serra, percebe-se que a petista Dilma Rousseff está sendo eleita por um percentual bem inferior ao da metade do eleitorado nacional. De 136 milhões de eleitores, 79.484.669 eleitores não votaram nela. Isso é grave. Ela assume sem ter maioria na população brasileira. Isso mostra  muito mais do que um País dividido. Ex-ministra de Minas e Energia e da Casa Civil, Dilma foi ungida em 2008 à condição de candidata pelo presidente Lula, que impôs o seu nome ao partido, o PT, expulsando da cena pretendentes como o peremptório Tarso Genro, agora eleito governador do Rio Grande do Sul. Em 31 de março deste ano, Dilma deixou a Casa Civil para entrar na pré-campanha. Cresceu nas pesquisas e chegou a ter mais de 50% dos votos válidos em todas elas, mas começou a oscilar negativamente dias antes do primeiro turno, após a revelação dos escândalos de corrupção na Casa Civil e da entrada do tema do aborto na campanha. Logo no primeiro debate do segundo turno, reagiu aos ataques que vinha sofrendo e contra-atacou Serra. A partir daquele momento, a diferença entre os dois candidatos nas pesquisas parou de cair. Dilma se tornou neste domingo o 40º presidente da República brasileira, e a primeira mulher a ocupar o cargo. Dilma tornou-se um nome forte para disputar o cargo ao assumir o posto de ministra-chefe da Casa Civil, em junho de 2005, após a demissão do todo poderoso José Dirceu, acusado pela Procuradoria Geral da República como chefe da quadrilha do Mensalão do PT. No comando da Casa Civil, Dilma travou uma intensa disputa com o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, por causa da política econômica do governo. Enquanto ele defendia aperto fiscal, ela pregava aceleração nos gastos e queda nos juros. Dilma acabou assistindo à queda também deste oponente. Palocci foi demitido em março de 2006, devido ao estupro do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, produzido pela Caixa Econômica Federal, que era chefiada pelo trotskista gaúcho Jorge Matoso, outro defenestrado. Com a reeleição de Lula e sem grandes rivais à altura no PT, Dilma tornou-se, depois do presidente, o grande nome do governo. Quais são as dificuldades que se vislumbra pela frente? São muitas. Aparentemente, ela teria todas as melhores condições para exercer o seu governo sem grandes dificuldades. Para começar, terá uma maioria folgada no Congresso Nacional. O PT se tornou o partido com maior bancada na Câmara dos Deputados. Com a adesão absolutamente subalterna de uma constelação de partidos desclassificados, terá maioria absoluta nessa Casa. A mesma coisa sucede no Senado Federal. Esse é um resultado a que se chegou no País pela desistência, nos últimos oito anos, do exercício da oposição pelos dois principais partidos que deveriam exercer esse papel, o PSDB e DEM. O PSDB foi elemento ativo nas negociatas para que fosse evitado o processo de impeachment de Lula no seu primeiro mandato, na esteira do escândalo do Mensalão do PT. Jatinhos partiam de Brasília ao alvorecer do dia, no auge do escândalo, e aterrissavam em São Paulo e Belo Horizonte, onde acordos espúrios eram realizados em hangares de aeroportos, tudo em nome desse demônio que infesta a vida nacional, chamado de "governabilidade". Esse é o nome que se dá a "negociabilidade" atualmente. Pois bem, liberado do maior perigo naquele momento, Lula passou a colocar em intenso desenvolvimento a sua estratégia de ocupação de todos os espaços da vida pública nacional, tendo como suporte a sua base partidária sindicaleira corrupta. Também ocupou os espaços no aparelho do Estado, em todas as esferas. Subordinou prefeitos por meio da política clientelista, estabelecendo relação direta com os mesmos e suprimindo a instância de mediação dos governadores dos Estados. Estes, os governadores, tornaram-se figuras obsoletas, sem qualquer importância decisiva na política nacional. O empresariado nacional foi totalmente seduzido com medidas econômicas que beneficiaram os grandes grupos empresariais e também com uma intensa política de ampliação de crédito para o "comprismo" que seduziu as classes médias e o "proletariado". Isso aconteceu por meio de medidas como o empréstimo consignado para os aposentados e pensionistas, que também serviu para irrigar os canais do Mensalão do PT via banco mineiro privilegiado. A cada uma dessas escaladas, a oposição mais se encolhia. O governo Lula chafurdava na corrupção, mas a oposição se negava a realizar a tarefa da "desconstrução" do mito Lula. O resultado aí está. Para sustentar esta campanha eleitoral, Lula promoveu o mais desbragado gasto público e detonou as contas nacionais. No mês de setembro foi preciso uma jogada contábil rasteira, com o fajuto processo de "capitalização" da Petrobras para garantir o superávit nacional. Qual será a mágica de outubro? Agora virá a conta, e será necessário pagá-la. Dilma ficará com este encargo. E os tempos que se aproximam são de crise mundial, e das grandes. A própria presidente eleita, no seu pronunciamento pela vitória, na noite deste domingo, em Brasília, avisou que este cenário já chegou. Ela recheou o seu discurso de confirmações sobre compromissos de seu governo, como a manutenção da liberdade de imprensa, contra o aborto, pela liberdade de culto, etc...., como se precisasse reafirmar isso a todo minuto para desfazer os perigos que ela própria anunciou quando ainda ministra, ao publicar o Plano Nacional de Direitos Humanos 3. Não adianta muito, porque as desconfianças são muito mais fortes. Em São Paulo, José Serra encerrou sua campanha anunciando que agora fará uma oposição mais constante. É de se pagar para ver. Mas muito duvidoso. Afinal, ele teve oito anos em São Paulo para fazer oposição ao governo Lula, e não usou o tempo para isso. Pagou agora o peso. Mais do que isso, ele saiu do governo de São Paulo para começar a campanha eleitoral sem ter se preparado para isso. Teve que enfrentar uma longa e inútil discussão com o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, que também queria ser candidato. No fim, Aécio Neves elegeu seu sucessor em Minas Gerais, mas traiu miseravelmente a candidatura de José Serra no Estado. Ao mesmo tempo, José Serra desprezou solenemente, durante quatro anos, a sua companheira de partido Yeda Crusius. Cortejou o PMDB gaúcho que o traiu no primeiro turno. E o que aconteceu? Ele venceu a eleição no Rio Grande do Sul no segundo turno. Serra também não montou absolutamente nada de infraestrutura para sua campanha, além do programa de televisão, o qual, aliás, foi um tremendo fracasso, porque desde o começo demitiu-se de fazer aquilo que qualquer candidatura trata de fazer logo no seu começo, que é a desconstrução do adversário. Enfim, uma coleção de erros históricos imperdoáveis que se somou ao longo dos anos e que não poderia levar a lugar algum. O cenário não é muito alentador para todos os brasileiros que não confiam no PT e suas intenções, porque não há partidos e políticos nos quais confiar e esperar que os liderem na oposição. Aliás, é de se perguntar: teremos oposição? E, se tivermos, que oposição será essa? Igual á que aqueles passageiros dos jatinhos para Belo Horizonte e São Paulo faziam?

Um comentário:

Antonio Miguel disse...

É assustador, mas aí está a terrorista no poder.