domingo, 26 de setembro de 2010

Governador lulista de Tocantins ligado a uma incrível história de corrupção

A reportagem “O triângulo da Corrupção”, na revista Veja, trata das investigações que mostram os vínculos dos governadores do Tocantins (Carlos Gaguim), Amapá (Pedro Paulo Dias) e Mato Grosso do Sul (André Puccinelli) com quadrilhas acusadas de desviar fortunas dos cofres públicos. E os três são candidatos à reeleição! As histórias são espantosas. A do Tocantins de Carlos Garguim choca também pela ousadia. O governador se preparava para terceirizar nada menos de 22 mil funcionários públicos que já são contratados sem concurso. A máquina administrativa do estado seria praticamente entregue ao empresário José Carlos Cepera, em uma operação saudada por um dos intermediários do “negócio”  como coisa de “um bilhão de real”. Proprietário de seis empresas de limpeza e segurança registradas em nome de laranjas, Cepera contava com a boa-vontade de autoridades para vencer licitações superfaturadas no Tocantins, e também nas cidades paulistas de Campinas, Hortolândia, Mauá e Indaiatuba. O Ministério Público paulista descobriu que o grupo operava o esquema desde 2004, pelo menos. Segundo os promotores, o bando amealhou contratos fraudulentos com órgãos públicos que somam, no total, 615 milhões de reais. Uma única licitação, lançada pela Secretaria de Educação do Tocantins, responde por mais da metade do total: 332 milhões de reais. Os indícios de superfaturamento eram tão gritantes que logo foi alvo de questionamentos do Tribunal de Contas do Tocantins. Nem por isso Manduca (intermediário de Cepera), Cepera e o governador Gaguim deixaram de festejar a bandalheira. Em 13 de março último, Cepera pagou um fim de semana cinco-estrelas para a turma em São Paulo. O empresário gastou R$ 19.800,00 para comprar um camarote para sua patota assistir à corrida da Fórmula Indy na capital paulista. Hospedou Gaguim no luxuoso Unique Hotel, ofereceu-lhe um churrasco e deixou um helicóptero à sua disposição. Preocupou-se até em evitar que Gaguim padecesse da solidão do homem contemporâneo na metrópole fria e impessoal. Mandou-lhe uma moça que se apresenta como Delinda e que, pouco antes, tinha feito uma visitinha a Manduca. No dia seguinte. Cepera telefonou a Gaguim para saber se ele tinha gostado do fim de semana. “A carne que o Manduca ofereceu estava boa ou meia dura?”, indagou Cepera. Gaguim não titubeou: “Show de bola!” Documento reservado mostra em 428 páginas e 300 interceptações telefônicas os bastidores de suposto esquema bilionário de fraudes em licitações e aponta o governador do Tocantins, Carlos Amorim Gaguim (PMDB), e o procurador-geral do Estado, Haroldo Rastoldo, como integrantes de organização criminosa. A partir do monitoramento de empresários e lobistas, Gaguim e seu procurador caíram involuntariamente na escuta autorizada pela Justiça. Em busca da reeleição ao Palácio Araguaia, pela coligação Força do Povo, Gaguim conta com apoio declarado do presidente Lula e da candidata à Presidência pelo PT, Dilma Rousseff. Ambos têm participado em Palmas de agendas de campanha ao lado do peemedebista que espalhou banners por quase todo o Tocantins em que aparece com Lula e Dilma. O relatório, à página 266, faz referência a um novo contrato que o grupo teria fechado com Gaguim para admissão de 3 mil funcionários por secretarias de Estado sem concurso público. “Manduca explica sobre um encontro que se realizaria em Palmas onde se fariam presentes o presidente Lula e a então ministra Dilma Rousseff”, diz o texto. Na mesma página, o relatório transcreve escuta de 14 de março, às 10h12, entre Manduca e o empresário José Carlos Cepera. O lobista conta que “Lula está indo para Palmas lá na fazenda dele (Gaguim)”. “Eu vou ficar três dias lá com o Lula e ele (Gaguim)”, diz Manduca. “Vão ficar lá dois secretários dele, ele (Gaguim), eu, a Dilma e o Lula. Vão pescar tucunaré lá na chácara". Cepera o parabeniza. Presos há uma semana, Manduca e Cepera são amigos de Gaguim. Em outro diálogo, no dia 26 de março, às 14h38, Cepera e Manduca falam de um encontro de Gaguim com Lula na Bahia. “O homem (governador) está em Itabuna, Bahia, com o presidente Lula e acabou de relatar ao presidente que a empresa de um oriundo de Tocantins que vive em São Paulo há 30 anos é a solução para os problemas do Estado”, disse o lobista. No dia anterior, às 19h07, Manduca relata a interlocutor não identificado planos ambiciosos com suposta participação de Gaguim. O lobista narra que o governador o chamou de amigo e teria prometido que juntos “vão botar para f… vão fazer o Estado inteiro, vão fazer R$ 1 bilhão”. “Os diálogos e e-mails deixam claro que a vitória da empresa de Cepera e contratações subsequentes são decorrência de novas fraudes realizadas pela organização com participação direta de agentes políticos e servidores públicos do alto escalão do Estado do Tocantins, dentre eles o próprio governador Gaguim e o procurador geral do Estado”, afirma o relatório, na página 246. Os grampos mostram os movimentos do grupo até no Supremo Tribunal Federal e a trama secreta para fechar contrato com a Secretaria de Educação e Cultura do Tocantins, em dezembro de 2009, no valor de R$ 13,8 milhões com a O.O. Lima Empresa Limpadora Ltda, carro-chefe de Cepera. No cartão de crédito, Maurício Manduca, o lobista da quadrilha, pagou despesas do governador Carlos Gaguim, que, em março, veio a São Paulo para assistir à corrida de Fórmula Indy. Segundo a investigação, Gaguim hospedou-se no Hotel Unique, no Ibirapuera - diária de mais de R$ 800 -, onde recebeu a visita de uma garota de programa, escolhida e paga por Manduca. Telefonema gravado em 13 de março, às 22h26, revela um Manduca todo prosa, vangloriando-se de ter recebido a mesma moça antes de encaminhá-la ao apartamento de Gaguim. O lobista incumbiu-se também de desembolsar R$ 16.250,00 para cobrir gastos com locação de um helicóptero que ficou à disposição do governador. Vários secretários de Gaguim o acompanharam, mas se hospedaram em outro hotel, o Caesar Park. Segundo o relatório, o governador não quis ficar com sua equipe. Manduca também pagou os gastos do secretariado. O camarote da Fórmula Indy adquirido por Manduca para abrigar a comitiva tinha capacidade para 11 pessoas. Custou R$ 19,8 mil. A promotoria obteve cópia da fatura do cartão de crédito do lobista. O documento indica que havia uma reserva no Unique para o hóspede Carlos Gaguim entre os dias 13 e 15 de março e outra para Manduca, no mesmo período. O grampo telefônico mostra Manduca contratando helicóptero para Gaguim, prevendo escala em Campinas, onde o lobista reside. “Prepare a casa para recepcionar o governador”, disse o lobista para a mulher. O governador teria aproveitado sua vinda a São Paulo para tratar dos negócios do Grupo Cepera no Tocantins. A interceptação pegou uma conferência por telefone entre Manduca, Cepera e o governador em 14 de março, às 10h04. Manduca diz a Cepera, em diálogo gravado, que na reunião com Gaguim teria conseguido fechar a contratação de mais três mil funcionários da O.O. Lima Limpadora. O Ministério Público sustenta que a ata de registro de preços que resultou no contrato com a empresa era dirigida. A Justiça determinou a quebra do sigilo bancário e o bloqueio de contas do lobista Maurício Manduca. A ordem do juiz Nelson Augusto Bernardes, titular da 3ª Vara Criminal de Campinas (SP), alcança ainda o empresário José Carlos Cepera, que mantém negócios com a administração do peemedebista. O lobista e o empresário estão presos desde sexta-feira acusados de chefiarem esquema de fraude em licitações. O nome de Gaguim é citado em interceptações telefônicas autorizadas judicialmente em investigação do núcleo Campinas do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), braço do Ministério Público Estadual. Os dados relativos a ele foram enviados para o Superior Tribunal de Justiça, corte que tem competência para eventual abertura de inquérito. A promotoria suspeita que pessoas próximas a Gaguim frequentavam uma mansão no bairro Nova Campinas que servia de base da organização criminosa. A investigação mostra que o imóvel, protegido por policiais civis, era uma “casa do lobby”. Os contatos políticos e as fraudes, segundo a promotoria, eram articulados por Manduca. Gaguim busca a reeleição e lidera as pesquisas de intenção de voto. O alvo principal da força tarefa é o lobista Maurício Manduca, amigo de Gaguim e sócio de um cunhado do governador, o empresário Duda Rodrigues, em uma boate que será inaugurada no Shopping Capim Dourado, em Palmas. Duda é irmão da primeira-dama Rose Amorim. Entre 15 e 27 de abril, Manduca integrou comitiva de Gaguim em missão oficial à China e aos Estados Unidos. São investigadas seis empresas: Lotus Serviços Técnicos, Pluriserv Serviços Técnicos, Infratec Segurança e Vigilância, São Paulo Serviços, Pro-Saneamento Ambiental e O.O. Lima Empresa Limpadora.

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