sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Oficial da ditadura argentina confessa ter recebido ordem para matar todos os prisioneiros políticos

Antonio Pernías, ex-oficial de Inteligência da Marinha argentina, disse nesta quinta-feira à Justiça que recebeu ordens do alto comando durante a ditadura militar (1976-1983) para matar todos os presos políticos e dissidentes. Pernías, acusado do sequestro, tortura e desaparecimento de duas freiras francesas, além de dezenas de crimes de lesa-Humanidade, revelou que a ordem de extermínio geral veio do vice-almirante e chefe de operações navais, José María Mendía. "Olhe Pernías, recebi ordens para não ficar ninguém vivo", disse o ex-oficial durante uma sessão do julgamento do caso da "Escola de Mecânica da Armada" (Esma), um dos maiores centros de tortura e execução de presos políticos na Argentina. Ao menos 5 mil pessoas passaram pela "Escola de Mecânica" e apenas uma centena sobreviveu. A defesa de Pernías alega que o então oficial de Inteligência era um subordinado que apenas cumpria ordens e nega que ele tenha participado do sequestro das freiras francesas Leonie Duquet e Alice Domon. Pernías revelou ter recebido a ordem de execução geral ao acompanhar o vice-almirante Mendía a um cemitério da província de Buenos Aires onde eram enterrados corpos sem identificação. Em 2005, a Justiça conseguiu identificar os corpos no citado cemitério, entre os quais os de Duquet e de três mulheres do grupo humanitário Mães da Praça de Maio, incluindo sua primeira presidente, Azucena Villaflor. "Foi um erro e um horror" o sequestro das freiras, disse o oficial de Inteligência, que agia com um dos principais acusados no processo da Escola de Mecânica, capitão Alfredo Astiz, também conhecido como "O Anjo Louro da Morte"'. Pernías também reconheceu que houve "transferência" de presos, eufemismo para os chamados "vôos da morte", durante os quais os detidos eram jogados vivos ao mar. A freira Leonie Duquet, Azucena Villaflor e outras duas mulheres foram executadas nestes "vôos da morte", e seus corpos apareceram na costa de um balneário a 300 quilômetros ao sul de Buenos Aires, sendo enterrados sem identificação.

Nenhum comentário: