segunda-feira, 21 de junho de 2010

Vaticano chama Saramago de "populista extremista" e "ideólogo antirreligioso"

O "L'Osservatore Romano", o jornal oficial do Vaticano, atacou duramente o escritor português José Saramago, que morreu na sexta-feira, aos 87 anos, na Espanha, chamando-o de "populista extremista" e de "ideólogo antirreligioso" em sua edição deste domingo. Com o título "O grande (suposto) poder do narrador", o órgão oficial do Vaticano critica com virulência o Prêmio Nobel de Literatura, que era marxista e ateu. O "L'Osservatore Romano" o definiu como "um ideólogo antirreligioso, um homem e um intelectual que não admitia metafísica alguma, aprisionado até o fim em sua confiança profunda no materialismo histórico, o marxismo". O jornal considera ainda que o escritor "colocou-se com lucidez ao lado das ervas daninhas no trigal do Evangelho". "Ele dizia que perdia o sono só de pensar nas Cruzadas ou na Inquisição, esquecendo-se dos gulags, das perseguições, dos genocídios e dos samizdat (relatos de dissidentes da época soviética) culturais e religiosos", indica ainda o jornal do Vaticano em seu editorial. No editorial divulgado com antecedência, o "L'Osservatore Romano" considera Saramago "um populista extremista", que se referia "de forma muito cômoda" a "um Deus no qual jamais acreditou por se considerar todo-poderoso e onisciente". Saramago provocou a ira do Vaticano e da Igreja Católica com sua obra "O Evangelho segundo Jesus Cristo" (1992) no qual considerava que Jesus perdeu a sua virgindade com Maria Madalena. Ele suscitou novamente a cólera dos católicos em 2009 com "Caim", onde a personificação bíblica do mal, assassino de seu irmão Abel, é descrito como um ser humano nem melhor nem pior do que os outros, enquanto Deus é apresentado como injusto e invejoso. Durante a apresentação desse livro, Saramago havia alimentado a polêmica, classificando a bíblia de "manual de maus costumes". Saramago era um "humanista" comunista que nunca se preocupou em fazer a auto-crítica pelos monumentais crimes cometidos pelos regimes comunistas, como os da extinta União Soviética, da China, de Cuba e do Cambodja. Em suma, genocídios cometidos por comunistas tinham o "objetivo humanitário", eram pelo "bem da humanidade".

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