segunda-feira, 21 de junho de 2010

Ex-ditador uruguaio depõe sobre caso de sequestro de crianças

O comparecimento perante um juiz do ex-ditador Gregorio Álvarez reavivou nesta segunda-feira no Uruguai o processo aberto pelo sequestro, em 1976, das crianças Anatole e Victoria Julien, filhos de um casal uruguaio desaparecido na Argentina durante a "Operação Condor". Com duas horas e meia de atraso, o ex-ditador de 84 anos chegou em um carro policial ao tribunal, onde entrou caminhando com dificuldade, rodeado de jornalistas e fotógrafos. O ex-chanceler uruguaio Juan Carlos Blanco, citado no mesmo tribunal e no mesmo caso, disse. "Não sei por que fui chamado aqui. Garanto que não tenho nenhuma participação em nenhuma atividade repressiva, nem em decisões, nem em planejamento". Álvarez, comandante do Exército em 1978 e 1979, e governante de 1981 a 1985, está desde 2007 em um presídio construído para militares envolvidos em crimes contra a humanidade. Em outubro passado, foi condenado a 25 anos de prisão pela morte de 37 opositores nos anos em que comandou o Exército. Blanco, que exerceu o cargo de ministro durante a ditadura, foi condenado em abril a 20 anos de prisão pelo desaparecimento, em 1976, da professora uruguaia Elena Quinteros. Esta foi a causa da ruptura de relações diplomáticas com a Venezuela, pois ela foi capturada quando tentava se refugiar na Embaixada desse país em Montevidéu. As crianças Anatole e Victoria Julien foram encontradas em 1979, em Valparaíso (Chile), três anos depois que seus pais, Roger Julien e Victoria Grisolas, foram assassinados em Buenos Aires, mas sua verdadeira identidade só se soube em 1984, com a colaboração da Arquidiocese de São Paulo. Álvarez, Blanco e outros repressores foram processados em seu país apesar da existência da lei de caducidade, aprovada em 1986 e referendada pelos uruguaios em plebiscitos realizados em 1989 e 2009. Esta lei deixa impunes os crimes da ditadura, mas os dois últimos governos deixaram sem efeito essa normativa nos casos relacionados ao desaparecimento ou assassinato de dissidentes uruguaios fora do país ou com destino ao Uruguai. No sábado, o presidente José Mujica, um ex-terrorista tupamaro, pediu a seus compatriotas que digam "nunca mais" aos males sofridos pela sociedade durante a ditadura e que se comprometam com a liberdade, paz e igualdade. Ao chegar ao poder em março passado, Mujica expressou às Forças Armadas sua intenção de deixar para trás o passado, embora também tenha declarado que não existe um "ponto final" para os crimes de Estado. A promotora do caso Julien é Adriana Costa.

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