segunda-feira, 7 de junho de 2010

Delegado federal aposentado relata o plano de espionagem contra Serra

Ele se chama Onézimo Sousa. É delegado aposentado da Polícia Federal. Apareceu no noticiário como chefe de um grupo de espionagem que estava sendo montado no porão do comitê de campanha da candidata petista Dilma Rousseff. O policial de pijamas foi trazido à boca do palco pelos repórteres Policarpo Junior e Daniel Pereira, da revista Veja, que fizeram uma entrevista com ele. Onézimo contou que, de fato, participou de uma reunião de planejamento. Afirma que, por ter discordado dos métodos e do tipo de operação, refugou a oferta de trabalho. Previa dois movimentos. Em um, desejava-se identificar um membro da campanha de Dilma Rousseff a quem se atribuía o vazamento de informações estratégicas do comitê. As suspeitas recaíam sobre Rui Falcão (PT-SP). Em outro, planejava-se espionar o presidenciável tucano José Serra, familiares, amigos e o deputado federal Marcelo Itagiba (PSDB-RJ).
Onézimo relatou que foi convocado para uma reunião com Fernando Pimentel (PT-MG), amigo de Dilma Rousseff e um dos coordenadores da campanha petista. No local combinado, a área reservada de um restaurante fino de Brasília, apareceu o jornalista Luiz Lanzetta, da Lanza Comunicação, contratada pelo PT para atuar no setor de comunicação da campanha. Segundo Onézimo, Lanzetta lhe disse que falava em nome de Pimentel. A conversa desceu às cifras. Onézimo receberia R$ 1,6 milhão, em parcelas mensais de R$ 160 mil por mês. Não haveria contrato. O dinheiro seria provido por Benedito de Oliveira Neto, um dono de empresas que prosperou sob Lula, prestando serviços ao governo. Benedito estava presente à reunião. Também tomou parte da conversa um repórter chamado Amaury Ribeiro Jr. A seguir a entrevista que o delegado Onézimo concedeu a Policarpo e Daniel:
-O senhor foi apontado como chefe de um grupo contratado para espionar adversários e petistas rivais?
Fui convidado numa reunião da qual participaram o Lanzetta, o Amaury [Ribeiro], o Benedito [de Oliveira, responsável pela parte financeira] e outro colega meu, mas o negócio não se concretizou. Havia problemas de metodologia e direcionamento do trabalho que eles queriam.
-Como assim?
Primeiro, queriam que a gente identificasse a origem de vazamentos que estavam acontecendo dentro do comitê. Havia a suspeita de que um dos coordenadores da campanha estaria sabotando o trabalho da equipe. Depois, queriam investigações sobre o governador José Serra e o deputado Marcelo Itagiba.
-Que tipo de investigação?
Era para levantar tudo, inclusive coisas pessoais. O Lanzetta disse que eles precisavam saber tudo o que eles faziam e falavam. Grampos telefônicos...
- Pediram ao senhor para grampear os telefones do ex-governador Serra?
Explicitamente, não. Mas, quando me disseram que queriam saber tudo o que se falava, ficou implícita a intenção. Ninguém é capaz de saber tudo o que se fala sobre alguém sem ouvir suas conversas. Respondendo objetivamente, é claro que eles queriam grampear o telefone do ex-governador.
- Disseram exatamente que tipo de informação interessava?
Tudo o que pudesse ser usado contra ele na campanha, principalmente coisas da vida pessoal. Esse é o problema do direcionamento que eu te disse. O material não era para informação apenas. Era para ser usado na campanha. Na hora, adverti que aquilo ia acabar virando um novo escândalo dos aloprados.
- Quem fez essa proposta?
Fui convidado para um encontro com Fernando Pimentel. Chegando lá no restaurante, estava o Luiz Lanzetta, que eu não conhecia, mas que se apresentou como representante do prefeito.
- Ele pediu para investigar os petistas também?
Disse que estava preocupado, que tinha ocorrido uma reunião entre os seis coordenadores da campanha e que tudo o que havia sido discutido foi parar nos jornais. Havia alguém vazando informações, e ele queria saber quem era. Suspeitava do Rui Falcão.
Ouvido, Fernando Pimentel disse que não conhece Onézimo. Afirmou que Luiz Lanzetta não está autorizado a falar em seu nome. Lanzetta, segundo Veja, declarou ter feito "uma bobagem". Alegou que o grupo agiria apenas evitar ataques dos adversários. Ao longo da semana PT e PSDB trocaram farpas. Serra atribuiu à rival Dilma a montagem de um dossiê contra ele. “Uma injustiça”, uma “ignomínia”, respondeu a candidata petista. Presidente do PT, José Eduardo Dutra anunciou que, na segunda (7), vai interpelar Serra judicialmente. Se confirmar o que disse, será alvo de um pedido de indenização por danos morais. “Uma bobagem”, reagiu Serra. Cabe ao PT se explicar, disse ele. Curiosamente, a empresa de Luiz Lanzetta continua formalmente contratada pelo PT.

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