sexta-feira, 28 de maio de 2010

Trens da Morte franceses são processados nos Estados Unidos

Leo Bretholtz estava entre os mais de 1.000 judeus que foram empurrados para dentro de um trem para Auschwitz no dia 6 de novembro de 1942, que partiu de um subúrbio de Paris. Bretholtz e uma amiga conseguiram se espremer através de uma janela gradeada e fugir do vagão, mas 773 dos judeus que estavam naquele trem foram mortos com gás pelos nazistas após a chegada em Auschwitz. Agora, com 89 anos, Bretholtz mora em Baltimore e ainda luta por justiça. Ele é um dos 269 sobreviventes do Holocausto que vivem nos Estados Unidos e que estão processando a SNCF, a companhia ferroviária nacional francesa, pois afirmam que foi uma colaboração voluntária para com os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Mas Bretholtz e seus co-autores aprenderam durante os vários procedimentos legais durante a última década que o caminho legal está bloqueado. Devido ao disposto sobre imunidade na legislação americana a empresa que possibilitou a deportação de dezenas de milhares de judeus para os campos de morte não pode ser tocada. Então, eles estão apelando ao Congresso por ajuda. "Para eles era um negócio" afirma Bretholtz sobre a empresa ferroviária", mas na verdade era a desumanização ao extremo". Mathilde Freund, uma sobrevivente do Holocausto que testemunhou os trens franceses saindo da estação de Lyon, disse: "O que eu vi lá, eu nunca vou esquecer a minha vida inteira. Eu vi os empregados franceses empurrando as pessoas para dentro dos vagões. Eu os ouvi gritando e chorando, havia cadáveres em poças de sangue no chão. Eram tratados como animais". Nos dias 12 e 13 de maio, Bretholtz, Freund e seus advogados se reuniram em Capitol Hill com assessores dos membros do Comitê Judiciário do Senado, em uma campanha para convencer o Senado para apoiar uma nova legislação que lhes permita processar a SNCF. O pacto de transporte da SNCF com os nazistas era, de fato, um negócio rentável, afirmam os autores. Os pagamentos dos alemães para a SNCF eram calculados pelo número das pessoas transportadas multiplicado pelo número de quilômetros percorridos. Trens muito lotados produziam maiores lucros. A empresa não contestou que recebeu pagamentos por estes transportes. Bretholtz se lembra vividamente dos empregados da SNCF empurrando os judeus para dentro dos vagões do trem, para que ficassem os mais amontoados e apertados quanto possível. Ele e seus co-autores argumentam que as políticas e ações da SNCF se constituíram em colaboração voluntária para o beneficio dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Mathilde Freund, que agora vive em Nova York, fugiu de Viena, sua cidade natal, junto com seu marido e família, após a Áustria ser invadida pela Alemanha. Os homens da família se ofereceram como voluntários ao exército francês, e após a derrota da França se esconderam nas florestas perto de Lyon. No dia 17 de setembro de 1943 o seu marido, Fritz, foi preso pela Gestapo enquanto procurava comida e foi levado para um local de deportação na estação ferroviária. Mathilde, em busca do seu marido desaparecido, chegou à estação, onde testemunhou a deportação dos judeus para Buchenwald. Mathilde Freund não pôde ver o marido no meio da multidão. Soube mais tarde que ele foi morto em Buchenwald, dias antes do campo ser libertado. O documento a ela entregue pela Cruz Vermelha dizia que Fritz tinha servido no exército francês e "morrido pela França".Como autor do processo o seu nome aparece na ação - Freund vs. SNCF, que visa à restituição dos bens seqüestrados dos judeus nos trens da SNCF com destino aos campos nazistas. Uma tentativa anterior em 2000 para processar a ferrovia francesa foi julgada em um tribunal federal, que citou as proteções que a SNCF tem contra processos judiciais nos Estados Unidos devido ao "Foreign Sovereignty Immunity Act – FSIA", de 1976. Embora a lei fosse para bloquear ações contra governos soberanos e seus funcionários, foi incluída também a proteção para empresas, como a SNCF, cujas ações são propriedade de um governo estrangeiro. Os sobreviventes estão procurando o Congresso para que aja e altere a FSIA, a fim que sejam possíveis ações judiciais contra empresas que voluntariamente colaboraram com o regime nazista. Projetos de Lei foram apresentados em ambas as casas (no Senado pelo democrata por Nova York Charles Schumer e por Carolyn Maloney na Câmara), e os sobreviventes estão solicitando aos membros do Comitê Judiciário do Senado para que co-patrocinem a legislação e garantam a sua rápida aprovação.

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