segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Em 18 meses, BNDES gasta R$ 5 bilhões para criar "gigantes"

Apoiada explicitamente pelo BNDES, a fusão entre os frigoríficos JBS-Friboi e Bertin é a quinta operação para criação de uma empresa gigante realizada com o apoio do banco nos últimos 18 meses. Desde então, já foram desembolsados R$ 5,1 bilhões para fortalecer e estimular a formação de grandes grupos, o equivalente a 6% de seu orçamento em 2008. Se for considerado o esforço do banco nos últimos dois anos para fortalecer o caixa dos dois frigoríficos no período anterior à fusão, os desembolsos chegam a R$ 8 bilhões. Em 2007, o BNDES comprou 14% do JBS e, em 2008, 27% do Bertin. As participações valiam, no fim de 2008, R$ 1,4 bilhão e R$ 2,4 bilhões, respectivamente. O valor não contabiliza o que o BNDES desembolsará para a nova JBS-Bertin, que nasce como maior processadora de carnes do planeta. A quantia será conhecida quando o megafrigorífico fizer uma oferta de ações. O BNDES tornou-se dono de 22,4% da nova companhia. Em abril do ano passado, o BNDES liberou R$ 2,5 bilhões para a compra da Brasil Telecom pela Oi. Com o dinheiro, os donos da Oi (os grupos Andrade Gutierrez e La Fonte) adquiriram a participação do GP, além do controle na BrT dos fundos de pensão e do banqueiro Daniel Dantas. O negócio forjou a gigante brasileira das telecomunicações. Em julho de 2008, foi a vez da Totvs receber R$ 405 milhões para comprar a Datasul e, assim, criar a maior companhia nacional do setor de software. Em janeiro, Votorantim Celulose e Aracruz ressuscitaram uma fusão que tinha sido enterrada depois da crise, criando a Fibria. A Votorantim aumentou a participação já existente na Aracruz e assumiu seu controle. A Aracruz estava mergulhada em perdas de R$ 4 bilhões depois de operar com derivativos (antes da crise, esperava lucrar apostando na queda do dólar, quando acabou ocorrendo o contrário), que também trouxeram prejuízos de R$ 2 bilhões à Votorantim. O BNDES apoiou com uma injeção de R$ 580 milhões no capital da nova empresa (passando, assim, a deter 34% dela) e, dias depois, liberou um empréstimo de R$ 661 milhões para o grupo se expandir. Outra vítima dos derivativos, com perdas de R$ 2 bilhões, a Sadia não tinha outra saída a não ser se juntar à Perdigão, formando em maio último a Brasil Foods, maior processadora de frangos no mundo. Mais uma vez, o BNDES apoiou a negociação, mostrando fôlego para entrar na oferta de ações da nova empresa. Estava disposto a pagar até R$ 1,5 bilhão, mas, como a procura pelos investidores foi forte, gastou R$ 400 milhões e ficou com 3% da companhia. Também em maio, o BNDES estimulou as conversas entre os frigoríficos Bertin e Marfrig, nos quais já tinha participação. Os dois estavam numa situação ruim, com prejuízos, em 2008, de R$ 681 milhões e R$ 35 milhões, respectivamente, devido à queda nas exportações. As negociações fracassaram em agosto, mas, um mês depois, o Bertin se acertou com outra empresa do portfólio do BNDES, a gigante JBS Friboi. À Marfrig restou comprar a Seara, por R$ 1,8 bilhão, e adquirir outros 11 frigoríficos a preço não revelado, em setembro.

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