domingo, 13 de setembro de 2009

Coréia do Norte treinou guerrilha brasileira

O regime comunista da Coréia do Norte treinou guerrilheiros brasileiros e enviou dólares a grupos de esquerda que pegaram em armas contra a ditadura militar nos anos 70. Instrutores do Exército coreano que falavam espanhol davam aulas de formação política, de marcha, emboscada, explosivos e manejo de armas leves, como fuzis e carabinas, aos alunos brasileiros. O jornal O Estado de S. Paulo entrevistou três dos integrantes de uma turma de brasileiros que treinou táticas de guerrilha rural naquele país. Integrantes da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR, o mesmo grupo da candidata petista à Presidência da República, Dilma Rousseff), eles revelaram um segredo da guerra fria. Cuba e China também treinaram guerrilheiros, que depois voltaram ao Brasil. No caso dos alunos dos coreanos, isso só não ocorreu porque os planos fizeram água após a desagregação de sua organização. "O curso foi muito bom. Tinha a parte militar clássica, mas sempre voltada para o trabalho de guerrilha", afirmou o sindicalista Irany Campos, um dos guerrilheiros do curso. A turma de brasileiros era formada em sua maioria por militantes de esquerda que foram banidos do Brasil. Eles haviam sido enviados para fora do País em troca da libertação de diplomatas estrangeiros sequestrados em 1970 pelos guerrilheiros, como os embaixadores alemão ocidental (Ehrenfried von Holleben) e suíço (Giovanni Bücher).
A direção da VPR acertou com a Embaixada da Coréia, em Cuba, o envio dos militantes (a ALN quase fechou acordo semelhante). Os nove da VPR saíram do Chile e foram para Cuba. Ali pegaram um avião em Havana, que fez escalas no Canadá, em Marrocos e em Moscou, quando houve uma pausa de dois dias. Os soviéticos permitiram a estadia dos brasileiros, que depois rumaram à Sibéria, onde o avião fez a última escala antes de Pyongyang. O acampamento dos brasileiros era próximo da capital. "A gente permaneceu isolado. Só saía de lá com os coreanos", afirmou Jovelina Tonello, única mulher do grupo. "O professor de caratê era um cara que havia matado 13 em uma emboscada", disse Jovelina. O fato ocorrera na Guerra da Coréia (1950-53). Parte do treinamento, que durou três meses, ocorreu quando ainda havia gelo. As aulas de formação política eram dadas por coreanos. "Dentro da visão que eles tinham de solidariedade internacional do camarada Kim Il-sung. Nós estávamos ali em função da solidariedade internacional", afirmou Campos, citando o secretário-geral do PC daquele país.
Após três meses, os guerrilheiros voltaram a Cuba pela mesma rota. O objetivo era voltar para o Brasil, mas a maioria foi para o Chile, na época governado pelo comunista Salvador Allende. Jovelina foi uma das militantes que foram parar em Santiago. Naquele período, em 1972, a situação da VPR havia se deteriorado. Três grupos se digladiavam pelo controle da organização. O líder de um deles, o sargento Onofre Pinto, era acusado de traição por sua ligação com José Anselmo dos Santos, o cabo Anselmo, que foi preso e passou a trabalhar para o delegado Sérgio Paranhos Fleury, da polícia paulista. "Um dia me encontrei com o Onofre e ele me deu um beijo. Eu não entendi nada. Ele disse: ‘Eu recebi o relatório. Muito bom, muito bom’. Aí fiquei sabendo que era o relatório sobre o curso na Coréia", disse Jovelina.

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