domingo, 3 de maio de 2009

Senado vai averiguar acusações de Zoghbi a Agaciel


A Mesa diretora do Senado quer ouvir João Carlos Zoghbi sobre as acusações que fez contra o colega Agaciel Maia. A inquirição será feita, por ordem do primeiro-secretário Heráclito Fortes (DEM-PI), no âmbito das duas sindicâncias já abertas contra Zoghbi, investigado por ter usado uma ex-babá de 83 anos como "laranja" em empresas que atuam na área de empréstimos consignados a servidores do Senado. Ex-diretor de Recursos Humanos, ele acusou Agaciel Maia, ex-diretor-geral, de corrupção. Zoghi falou junto com a mulher Denise, ex-servidora do Senado, em uma longa entrevista, para o repórter Andrei Meirelles, da revista Época. O casal Zoghbi contou que os contratos firmados pelo Senado com empresas fornecedoras de mão-de-obra terceirizada são portas abertas para o desvio. A certa altura, Denise Zoghbi referiu-se a Agaciel Maia como chefe do esquema de desvios. Ela disse: “Esses anos todos, o Senado tem dono. Um único dono. Agaciel é sócio de todas as empresas terceirizadas”. De Londres, onde se encontra, o primeiro-secretário Heráclito avisou a colegas de Senado que vai encomendar a audição de João Zoghbi. Quer saber se confirma as denúncias. Em caso positivo, Heráclito disse que cogita abrir sindicância também contra Agaciel, afastado da direção-geral há dois meses. Agaciel perdeu o cargo depois que se soube que escondera sob o nome de um irmão, o deputado federal João Maia, a posse de uma mansão. Agaciel continua funcionário do Senado Federal. Leia a reportagem da revista Época: “Na noite da quinta-feira 23, ÉPOCA manteve duas conversas com o casal João Carlos e Denise Zoghbi na mansão em que eles moram no Lago Sul, área mais nobre de Brasília. No primeiro encontro, a revista mostrou ao casal o resultado de três meses de apuração sobre as empresas de fachada em nome da ex-babá de João Carlos, Maria Izabel Gomes. A babá é uma senhora de 83 anos que não tinha renda até 2006. ÉPOCA mostrou que a família Zoghbi usou o nome de Maria Izabel para ocultar quantias milionárias recebidas de bancos que tinham autorização para fazer operações de empréstimos consignados com os funcionários do Senado. Diante das evidências, João Carlos e Denise confirmaram a história. No primeiro momento, atribuíram a fraude aos filhos, demitidos do Senado após o Supremo Tribunal Federal vetar o nepotismo. No primeiro encontro, o casal Zoghbi parecia desesperado. Repetiam que a divulgação da história da babá acabaria com eles. Durante a conversa, a reportagem sugeriu que, se os Zoghbis revelassem um escândalo ainda maior, com potencial para ser capa da revista, o caso da babá não seria o destaque principal da edição. Meia hora após o fim da primeira conversa, João Carlos ligou para o repórter Andrei Meireles e pediu um novo encontro. De volta à casa dos Zoghbis, ÉPOCA recebeu propostas de barganha. Denise ofereceu um carro para a reportagem não ser publicada (ÉPOCA apurou depois que se tratava de um Mercedes-Benz). Diante da recusa, passaram a oferecer denúncias sobre supostos esquemas de corrupção em todas as grandes compras, licitações e contratações no Senado. João Carlos e Denise afirmaram que há corrupção nas contratações do Sistema de Processamento de Dados (Prodasen), na comunicação social, no transporte, na vigilância e no serviço de segurança. Ao falar da área de taquigrafia, são mais específicos: “A taquigrafia é um escândalo. O serviço público tem o órgão dele de taquigrafia e contrata uma empresa para taquigrafar e fazer o mesmo serviço”, diz ela. Segundo o casal, a quadrilha que opera todos os negócios no Senado tem um chefe. Trata-se, segundo eles, de Agaciel Maia, que foi diretor-geral do Senado por 14 anos. Agaciel deixou o cargo há dois meses, depois da denúncia de que havia registrado uma mansão sua em nome do deputado federal João Maia (PR-RN), seu irmão. “Esses anos todos, o Senado tem dono. Um único dono”, diz Denise, sobre Agaciel. “Ele é sócio de todas as empresas terceirizadas (que têm contrato com o Senado)”. Agaciel Maia nega as acusações e atribui as denúncias de Zoghbi a uma antiga rivalidade. “Ele (João Carlos) sempre teve diferenças comigo. Sempre sonhou em ser diretor-geral”, diz. Agaciel afirma que nem teria como manipular os milionários contratos com empresas terceirizadas que fornecem mão de obra ao Senado: “A comissão de licitação é formada por 13 integrantes de diversas áreas, que são nomeados pelo presidente do Senado. Não havia como eu interferir”. Agaciel é investigado pelo Ministério Público e pela Polícia Federal por suspeita de fraude em licitações. “Já me viraram do avesso e não encontraram nada. Nem vão encontrar”, diz. Na conversa com ÉPOCA, em momento algum o casal Zoghbi pediu reserva sobre as revelações que estava fazendo. A partir da segunda entrevista, eles deixaram de dizer que o uso da babá como laranja havia sido um negócio dos filhos. João Carlos passou a admitir que era a ele que a história da babá comprometia. O casal Zoghbi fica cauteloso quando a conversa evolui para nomes de senadores. Quem são os parlamentares que bancam e se beneficiam das supostas operações corruptas de Agaciel? Os Zoghbis desconversam. O limite do casal é a insinuação do envolvimento dos senadores Romeu Tuma (PTB-SP) e Efraim Morais (DEM-PB) com Agaciel. Nada falam sobre os padrinhos políticos deles próprios – e também de Agaciel –, como José Sarney (PMDB-AP) e Renan Calheiros (PMDB-AL) e o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão. Na semana passada, a maior especulação nos principais gabinetes do Senado era sobre as possíveis reações de Denise. “Se essa mulher contar o que sabe, implode a cúpula do Senado”, diz um senador. Numa semana em que se esperava que o assunto predominante nas conversas no Senado fosse a doença da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, Denise roubou a cena. Ela e o marido começaram a falar. Eis os principais trechos do que eles disseram até agora.
ÉPOCA – Não. Pode até ter um (caso) mais interessante. Mas preciso de coisa para isso. Não tenho mais coisa do Agaciel. Sei que ele está de diretor escondido, despachando no 9º andar, despachando naquela sala que foi da mulher dele.
Denise – Quantas terceirizadas há no Senado? Verifique quantas? Quanto dá por mês?
ÉPOCA – Como é isso?
João Carlos – O mapa da mina está em cima...
Denise – Mas vai publicar o nosso?
ÉPOCA – Mas eu quero o mapa da mina inteiro.
Denise – O caso é o seguinte: nós não temos dinheiro para oferecer para você.
ÉPOCA – Dinheiro? Como assim? Não estou entendendo.
João Carlos – Nós somos quebrados, porra.
Denise – Esta reportagem vai acabar conosco, o João vai ser demitido. O que eu posso fazer? Dinheiro? Se eu te der o meu carro, você não publica?
ÉPOCA – Denise, eu não sou corrupto. Você está me agredindo.
Denise – Eu não estou querendo te agredir. Eu estou dizendo que nós não temos como te pedir... Não publica isso porque você vai acabar com a nossa vida (chorando). Vai acabar com a vida dos nossos filhos.
João Carlos – Uma humilhação, porra.
ÉPOCA – Essa história está apurada. Deveriam ter pensado na hora que pegaram uma senhora, que chamam de “mãe preta”, e colocado como laranja numa empresa. Três empresas. Não pensaram nisso na hora? Essa mulher vai depor na Polícia Federal.
Denise – Não pensamos. Mas vai publicar isso?
ÉPOCA – É o meu trabalho.
Acuados pela revelação do esquema da babá, João Carlos e Denise Zoghbi dizem que um enorme esquema de corrupção controla os contratos do Senado
ÉPOCA – Como funcionava o esquema (do Agaciel) lá dentro?
Denise – Ali, acho que ele divide tudo com o primeiro-secretário.
João Carlos – É a sintonia. Porque o primeiro-secretário, em última análise, é ele que delibera (durante a gestão de Agaciel, vários senadores ocuparam a primeira-secretaria. No período a que Zoghbi se refere, foram os senadores Romeu Tuma, do PTB-SP, e Efraim Morais, do DEM-PB).
Denise – Ele (Agaciel) fica com a parte do leão. Agaciel está milionário. Eu sei que ele tem casa, apartamento em Natal, uma fazenda no interior do Rio Grande do Norte, várias casas em Brasília em nome de irmãos. Ele faz bem feito.
João Carlos – Não vai ser aqui em Brasília. Vai ver na origem dele.
Denise – Eu tenho uma história melhor. Vai atrás das empresas terceirizadas.
ÉPOCA – Cadê o mapa da mina das terceirizadas?
Denise – Ele (Agaciel Maia) é sócio de todas as empresas terceirizadas.
ÉPOCA – Ele é sócio? Onde é que eu encontro?
Denise – Não sei.
ÉPOCA– Por exemplo: você usou sua ama de leite. Quem ele usa? No nome de quem está essa coisa?
João Carlos – Espera aí: se olhar todo direcionamento de contratos e quem realizava os contratos do Senado... Vai ver um crescimento exponencial de patrimônio do diretor que realizava os contratos. Durante esse período o patrimônio dele cresceu muito...
ÉPOCA – Isso não tem nada de novo. Tanto é que ele caiu. Quero avançar nessa história.
João Carlos – Não estou falando nada disso. É essa pessoa que contribuía para esse processo. Como as terceirizadas? Através do ex-diretor de contratos Dimitrios Hadijnicolaou (ex-diretor da Secretaria de Compras do Senado, que perdeu o cargo em agosto de 2008 depois de ser acusado pelo Ministério Público de participar de fraudes em licitações para contratação de empresas terceirizadas pelo Senado). Estou te dando caminhos.
Denise – O que todo mundo dentro do Senado sabe é que todas as terceirizadas são dele (Agaciel). Todas as contratações passam por ele.
ÉPOCA – Mas como provo isso? Por exemplo: quando a gente descobriu a dona Maria Izabel (a babá de João Carlos Zoghbi), a gente teve como chegar. Precisamos da Maria Izabel dele.
João Carlos – Quer uma ponta? Ele tem uma penca de irmãos. Mas tem um que trabalha no Senado. É o Oto Maia, que é o mais próximo. Pode ter outros, mas esse, necessariamente, tem o nome dele.
Denise – Tem de verificar quem são os donos. Tem um compadre, que eu não sei o nome dele, que é o marido de uma mulher que trabalha com a mulher dele. Já me falaram que tem coisa. Trabalha no 9o andar e que, inclusive, ficou no lugar dela.
João Carlos – Uma coisa é certa: ele não está concentrado em cima de uma pessoa. Ele tem braços porque foram 14 anos no comando. Deve ter umas dez terceirizadas.
Denise – Por aí, imagina. Cada um com uma média de mil, 2 mil funcionários.
João Carlos – Tem no Prodasen, na comunicação social, no transporte, na vigilância, na parte de segurança.
ÉPOCA – E na taquigrafia?
Denise – A taquigrafia é um escândalo. O serviço público tem o órgão dele de taquigrafia e contrata uma empresa para taquigrafar e fazer os mesmos serviços.
ÉPOCA – E de quem é essa empresa?
Denise – Essa empresa é da Cleide (Cleide Cruz, diretora da Secretaria de Comissões do Senado, que atuou como secretária de importantes CPIs do Congresso, inclusive a que levou ao impeachment do ex-presidente Fernando Collor). Que eu saiba, a filha dela é que tomava conta da empresa. Era a gerente.
ÉPOCA – Vocês podem falar do que vocês viram ali dentro.
João Carlos – A gestão é muito centralizada.
Denise – Procura olhar o Interlegis (programa desenvolvido pelo Senado para modernizar e integrar os poderes legislativos, federais, estaduais e municipais).
ÉPOCA – Tinha o Tuminha (ex-deputado federal Robson Tuma, filho do senador Romeu Tuma, do PTB de São Paulo) operando ali em determinado momento?
Denise – O Agaciel neutralizou ele, rapaz. O Agaciel fez o Sarney brigar com o Tuma.
João Carlos – Olha, vamos lá. Ninguém imaginava que o Tuma fosse tão fraco naquele momento. O Agaciel anulou o Tuma. O Tuminha tentou ali, forçou uma situação em determinado momento e o Agaciel neutralizou o Tuminha e deixou o Tuma desmoralizado nisso aí. Denise – O primeiro-secretário só trabalhava se fosse na cartilha do Agaciel. Todos fecharam com ele. Vai no Interlegis.
João Carlos – Outra ponta para puxar envolve o Interlegis. Ali é dinheiro de recurso internacional, de empréstimo do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), que não passa pelo processo licitatório. Teve uma contratação de R$ 10 milhões de um censo que foi feito diretamente por eles nesse processo. E mais: o Interlegis é todo minado.
Denise – E estão preparando outro censo...
ÉPOCA – E esse censo foi feito?
João Carlos – Foi feito na época.
Denise – Eles inclusive falam com muito orgulho da realização.
João Carlos – O Interlegis nasceu lá atrás com a Regina em um propósito e, de lá para cá, ele foi todo sendo deturpado.
ÉPOCA – A Regina do Prodasen? (Regina Borges é a funcionária que no ano 2000, por determinação dos então senadores Antônio Carlos Magalhães e José Roberto Arruda, mandou violar o painel eletrônico do Senado na votação secreta em que foi cassado o senador Luiz Estevão.)
João Carlos – Antes do escândalo do painel, o Interlegis foi criado com uma finalidade específica. Mas ficou um organismo de fachada para contratação de pessoas e de serviços. O dinheiro do Interlegis não passava pelo crivo da Lei 8.666 (que regula as compras e a contratação de serviços no setor público). Aí é que está. A contratação das pessoas deveria ser para cargos técnicos e trabalhar dentro do Interlegis para cumprir a missão do órgão. No entanto, os servidores foram trabalhar nos Estados e nos gabinetes a critério do Agaciel. Isso tem como provar. Historicamente, toda a trajetória do Interlegis foi sempre de desvios. E não são poucos recursos.
João Carlos – O Agaciel tem a veia política. Na primeira vez que o Sarney colocou ele lá, o Agaciel fez um trabalho de formiguinha de senador em senador para fazer a cabeça do Sarney.
Denise – Ele ganha todos os senadores.
ÉPOCA – O Agaciel presta favores variados.
João Carlos – É. Pois é. Ali, tem todo tipo de favores.
Denise – Um exemplo é o ACM (senador Antônio Carlos Magalhães, morto em 2007). Ele não suportava o Agaciel e depois passou a adorar. O Renan (Calheiros, líder do PMDB) não suportava ele e depois passou a adorar.
João Carlos – Ele era um facilitador. Vendia facilidade para todos, pô. Tem de fazer o transporte disso e mais daquilo? Ele fazia o transporte. Tem de imprimir isso e mais aquilo? Ele imprimia. Esse negócio de passagem. Tudo foi administrado de forma concentrada. Veja aqui a matéria da revista Época

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