segunda-feira, 20 de abril de 2009

MP paulista pretende intimar estilistas e organizadores de evento de moda para incluir negros em desfiles

A promotora Déborah Kelly Affonso, do Ministério Público de São Paulo, deve intimar, nos próximos dias, estilistas e organizadores da São Paulo Fashion Week, o maior evento de moda do País, para discutir a idéia de incluir um número mínimo de modelos negros nos desfiles. A proposta é que seja assinado conjuntamente um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que poderia valer já na próxima edição do evento, marcada para os dias 17 a 23 de junho. A possibilidade de estabelecer cotas em desfiles gerou polêmica no mundo da moda. Para Helder Dias Araújo, diretor da HDA Models, agência especializada em modelos negros, as cotas não deveriam ser uma necessidade, embora ele lembre que a participação de negros em desfiles seja bem pequena, na casa dos 3%. “Os modelos negros são chamados quando são desfiles temáticos ou quando o estilista quer ser conhecido ou quer ser marcado porque colocou negros na passarela. Se o Brasil é um País que não dá oportunidades aos negros sem uma pressão da lei, então que essa lei e essa ferramenta venham para conscientizar as pessoas”, afirmou Dias Araújo. Para ele, a razão para que tão poucos negros ganhem as passarelas é a “falta de vergonha” da sociedade brasileira e falta de preparo dos profissionais da área de moda. “O Brasil é um País em desenvolvimento. A moda brasileira tem apenas 20 anos de existência, os profissionais que estão nela não esperavam esse boom. A moda brasileira vem crescendo muito nesse período e os profissionais, até então, não estão preparados para entender que o Brasil não é um País de raça pura, mas um país miscigenado. Acredito que, nos anos futuros, isso venha a mudar, por pressão da população brasileira e pela Justiça”, ressaltou. Segundo Dias Araújo, outro motivo para a exclusão dos negros em desfiles é o fato de o mercado de moda brasileiro, incluindo os estilistas nacionais, utilizar como padrão de beleza e de consumo o modelo europeu. Trabalhando há três anos como modelo Rafael Alves, que já participou da SPFW, reconhece a escassez de modelos como ele nas passarelas, mas é contra a determinação de cotas. “A cota está criando uma separação”, afirmou.

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