segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Inquérito da Polícia Federal liga Sarney a desvios da empreiteira Gautama

Explodida em maio de 2007, a Operação Navalha caiu no silêncio. Mas, a investigação prossegue. A Polícia Federal continua empilhando provas contra Zuleido Veras, o dono da empreiteira Gautama, que comandava um esquema que fraudava obras públicas. O pedaço ainda inédito do inquérito reúne documentos de arrepiar. Em um trecho do processo, o sobrenome Sarney aparece com toda força. Entre as obras esquadrinhadas pela Polícia Federal está a ampliação do aeroporto de Macapá (AP). Foi licitada pela Infraero no final de 2004, depois de um pedido de José Sarney a Lula. Eleito senador pelo Amapá, o maranhense Sarney tem em Macapá, a capital do Estado, seu principal reduto eleitoral. A Gautama, construtora de Zuleido, sagrou-se vitoriosa na licitação da Infraero, acusada de fraude pela Polícia Federal. O contrato embute, de acordo com a polícia, um superfaturamento de R$ 50 milhões. A Polícia Federal colecionou provas que permitiram farejar o rateio do butim. Há no inquérito, por exemplo, comprovantes de depósitos bancários, gravações de diálogos telefônicos e planilhas de pagamento de propina. Em uma das planilhas, recolhida em batida policial na casa de Zuleido Veras, anotou-se a derrama de R$ 500 mil em campanhas eleitorais do Amapá. A Polícia Federal suspeita que o rateio tenha sido feito sob orientação de José Sarney, identificado na planilha de Zuleido com a sigla “PR” (presidente). Há mais: a polícia informa que um personagem identificado como José Ricardo, lobista da Gautama, chegava mesmo a despachar no gabinete do senador Sarney. Há pior: segundo a Polícia Federal, um dos encarregados de cobrar os benefícios da Gautama era Ernane Sarney, irmão do atual presidente do Senado. Ernane Sarney figura no inquérito como beneficiário de um depósito de R$ 30 mil de Zuleido. A voz do irmão do senador Sarney aparece em um dos diálogos captados por grampos telefônicos realizados pela Polícia Federal. A conversa é de abril de 2007. Ernane Sarney falava ao telefone com o tesoureiro da Gautama. Ele pediu dinheiro: “Vocês estão me enrolando. Já não estava tudo na mão? Eu tô com a corda no pescoço aqui, rapaz, o doutor também tá com a corda no pescoço", queixa-se o irmão de Sarney. Há também nas páginas do inquérito comprovantes de depósitos para assessores de outros três senadores do PMDB: Renan Calheiros (AL), líder do partido; Valdir Raupp (RO), ex-líder; e Roseana Sarney (MA), líder do governo Lula no Congresso Nacional.

Nenhum comentário: