domingo, 11 de janeiro de 2009

Banco do Brasil compra 49% do Banco Votorantim por R$ 4,2 bilhões

O Banco do Brasil anunciou na sexta-feira a compra de 49% do Banco Votorantim, terceiro maior banco privado e sétimo maior em ativos do País. A operação de cerca de 4,2 bilhões de reais aumenta a exposição do Banco do Brasil ao setor de veículos que foi impactado pela crise financeira internacional. O Banco do Brasil passará a deter participação equivalente a 49,99% do capital votante e 50% do capital social do Banco Votorantim. O Banco do Brasil pagará 3 bilhões de reais pela aquisição de ações ordinárias do Votorantim e fará um aporte de 1,2 bilhão de reais com a subscrição de novas ações preferenciais da instituição. A operação ainda envolve distribuição de dividendos de 750 milhões de reais. O Votorantim ocupa a quarta posição no ranking de financiamento de veículos do Brasil, com uma participação de 12%. A carteira de crédito nesse segmento soma 16,8 bilhões de reais, correspondente a 77,6% do crédito à pessoa física disponibilizado pela instituição. Já a participação de veículos na carteira do Banco do Brasil para a pessoa física é de 10,9%. Com a operação essa exposição sobe para 30,6%. Ou seja, o Banco do Brasil praticamente passa a se tornar um apêndice da indústria automobilística. O anúncio da aquisição do Banco do Brasil no Banco Votorantim ocorre depois da compra do banco paulista Nossa Caixa por 5,39 bilhões de reais, em novembro, acumulando oferta de crédito de 8 bilhões de reais ao setor automotivo. E mais do isso, mostrando como o governo Lula investe gigantescamente, e de maneira concentrada, na economia paulista, esquecendo-se do resto do País. A conclusão da operação com o Banco Votorantim, da família Ermírio de Moraes, representa que a instituição prosseguirá sendo uma casa financeira privada majoritariamente, deixando de ser estatizada por uma margem de 0,02% das ações. Mas, o presidente do Banco do Brasil, Antônio Francisco de Lima Neto, e José Ermírio de Moraes Neto, presidente do Banco Votorantim, disseram que a gestão do banco será compartilhada. Todas as decisões terão que ser tomadas em conjunto, e não haverá voto de Minerva. Eles decidirão em 120 dias se a instituição mudará de nome. O presidente do Banco do Brasil vai ocupar a presidência do conselho do Votorantim no primeiro ano, e Ermírio de Moraes será o vice-presidente. Eles disseram que a presidência do conselho, que terá oito integrantes, será rotativa entre Lima Neto e Ermírio de Moraes, com a troca a cada ano. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que a compra de parte do Votorantim pelo Banco do Brasil vai ajudar na retomada dos financiamentos de veículos novos e usados. "Estamos interessados em que se aumente o financiamento para veículos, principalmente veículos usados. Os recursos adicionais do Banco do Brasil estarão dando funding para o Banco Votorantim, que poderá aumentar o financiamento de carros novos e usados. É importante nesse momento que queremos recuperar o ritmo de venda nessa área", disse o ministro. A próxima operação de compra a ser concluída pelo Banco do Brasil é a do Banco de Brasília (BRB). Antônio Francisco de Lima Neto, presidente do Banco do Brasil, ressaltou que o grande atrativo para o banco federal na transação é a forte presença do Votorantim no financiamento para a compra de veículos: "Não tínhamos uma presença muito grande no segmento de automóveis". O interesse no ramo tinha levado o Banco do Brasil a criar uma parceria com o grupo sul-africano FirstRand, especializado na área, parceria que foi cancelada em dezembro, enquanto evoluíam as conversações com o Votorantim. "Esse é o movimento que o Banco do Brasil está fazendo. O banco comercial que não tem canais alternativos de distribuição está condenado a ficar para trás", disse Aldo Nandes, vice-presidente de finanças do Banco do Brasil. Para a família Ermírio de Moraes, controladora do Grupo Votorantim, o negócio amplia a rede de distribuição para oferecer crédito. Mas é também um meio de reforçar a posição do banco, alvo de especulação sobre sua situação de liquidez, em meio aos efeitos da crise internacional intensificada em setembro, que provocou entre outros estragos, uma perda de 2,2 bilhões de reais ao Grupo Votorantim em perdas com operações de hedge cambial. O Banco Votorantim tem financiamentos com 18 mil revendas de veículos, 8,6 mil lojas de material de construção, manutenção de 2,3 mil convênios privados e 400 com o setor público. Além disso, o Votorantim tem atualmente 4,1 mil agências e 15 mil pontos de atendimento em 3,2 mil cidades. A operação de compra da instituição não é pacífica. Ela está sendo contestada por ninguém menos do que José Dirceu, ex-ministro chefe da Casa Civil, deputado federal petista cassado por corrupção, que responde como réu no processo do Mensalão no Supremo Tribunal Federal. Ele disse que a compra foi “nada mais que uma ajuda ao Grupo Votorantim”. E acha que os problemas do Votorantim deveriam ser resolvidos pela iniciativa privada. “Trata-se de uma história mal contada”, diz José Dirceu em seu blog. “Por que nenhum banco privado se interessou pelo Votorantim? Os contribuintes, os eleitores e o PT deveriam ser os primeiros a questionar a operação, porque têm o direito de saber o que aconteceu ao Votorantim e a suas operações de derivativos; em suas relações com a Aracruz (do mesmo grupo); qual a real situação do banco e do grupo Votorantim (...) É bom que se diga, ainda, que o Votorantim tinha, em julho de 2008, uma carteira de financiamento de carros usados de R$ 17,9 bilhões, o que pode ser agora um problema e tanto”. De fato, atolado em financiamentos a carros, quem garantiria que o Banco Votorantim iria receber os pagamentos desses financiamentos? Era (é) o “subprime” nacional.

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