sábado, 3 de janeiro de 2009

A ameaça da aliança profana

O artigo a seguir é publicado por Videversus para que os leitores tenham compreensão do que está se movendo neste momento no cenário internacional, mais uma parte da enorme engrenagem formada pela união de organizações de esquerda, de viés marxista (comunistas) e organizações terroristas islamistas. O texto é de autoria do teórico Daniel Pipes, e este e outros textos importantes podem ser encontrados em seu site, no endereço http://www.danielpipes.org/. Leia agora o artigo de Daniel Pipes: “Uma análise sobre a paradoxal, mas cada vez mais real, aproximação entre fanáticos islâmicos e revolucionários comunistas e socialistas, unidos por uma causa comum: o ódio ao Ocidente e tudo que ele representa. “Aqui estão dois países irmãos, unidos como um único punho cerrado”, disse o socialista Hugo Chávez durante uma visita a Teerã em novembro passado, celebrando sua aliança com o islamista Mahmoud Ahmadinejad. O filho de Che Guevara, Camilo, que também visitou Teerã no ano passado, declarou que seu pai teria “apoiado o país em sua atual luta contra os Estados Unidos”. Ambos seguiram os passos de Fidel Castro, que, numa visita feita em 2001, declarou a seus anfitriões que “Irã e Cuba, em cooperação, podem fazer os Estados Unidos ficarem de joelhos”. Por sua vez, Ilich Ramírez Sánchez (“Carlos, o Chacal”) escreveu em seu livro l’Islam révolutionnaire (Islã Revolucionário) que “somente uma coalizão de marxistas e islamistas pode destruir os Estados Unidos”. Não são apenas os esquerdistas latino-americanos que vêem potencial no islamismo. Ken Livingstone, o trotskista ex-prefeito de Londres, literalmente abraçou o pensador islamista Yusuf al-Qaradawi. Ramsey Clark, o ex-procurador geral dos Estados Unidos, visitou o Aiatolá Khomeini e ofereceu seu apoio. Noam Chomsky, o professor do MIT, visitou o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, e apoiou a manutenção de armas por esse grupo terrorista. Ella Vogelaar, a ministra holandesa para a habitação, vizinhanças e integração, é tão simpática ao islamismo que um de seus críticos, o professor de origem iraniana Afshin Ellian, a chamou de “ministra da islamização”. Dennis Kucinich, durante sua primeira campanha presidencial em 2004, citou o Corão e incitou um público muçulmano a entoar “Allahu akbar” (“Deus é grande”), chegando a anunciar: “Eu guardo uma cópia do Corão em meu escritório”. Spark, um jornal para jovens do Partido Trabalhista Socialista britânico, louvou Asif Mohammed Hanif, o homem-bomba britânico que atacou um bar em Tel Aviv, como um “herói da juventude revolucionária” que levou a cabo sua missão “no espírito do internacionalismo”. Workers World, um jornal comunista notte-americano, publicou um obituário laudatório ao mestre terrorista do Hezbollah, Imad Mughniyeh. Alguns esquerdistas vão mais longe. Vários deles – Carlos, o Chacal; Roger Garaudy, Jacques Vergés, Yvonne Ridley e H. Rap Brown – chegaram a se converter ao Islã. Outros reagem com alegria à violência e brutalidade do islamismo. O compositor alemão Karlheinz Stockhausen considerou o 11 de Setembro “a maior obra de arte de todo o cosmos”, enquanto o falecido escritor norte-americano Norman Mailer chamou de “brilhantes” os autores do ataque. E nada disso é novidade. Durante a Guerra Fria, os islamistas favoreciam a União Soviética em detrimento dos Estados Unidos. Tal como o Aiatolá Khomeini afirmou em 1964, “Os Estados Unidos são piores do que a Grã-Bretanha, a Grã-Bretanha é pior do que os Estados Unidos e a União Soviética é pior do que ambos. Cada um é pior que o outro, cada um é mais abominável que o outro. Mas hoje estamos preocupados com a entidade maliciosa que é a América”. Em 1986, eu escrevi que “a URSS recebe uma pequena fração do ódio e malevolência devotados aos Estados Unidos”. Os esquerdistas retribuíram. Em 1978-79, o filósofo francês Michel Foucault expressou grande entusiasmo pela revolução iraniana. Janet Afary e Kevin B. Anderson explicam: “Ao longo de sua vida, o conceito de autenticidade de Foucault significava observar situações onde pessoas viviam perigosamente e flertavam com a morte: o lugar de onde a criatividade se originava. Na tradição de Friedrich Nietzsche e George Bataille, Foucault seguiu os artistas que forçaram os limites da racionalidade; ele escreveu com grande paixão em defesa de irracionalidades que rompiam novas barreiras. Em 1978, Foucault descobriu tamanhos poderes transgressivos na figura revolucionária do Aiatolá Khomeini e nos milhões que se arriscavam a morrer na medida em que o seguiam no curso da revolução. Ele sabia que tais experiências ‘limite’ poderiam levar a novas formas de criatividade e ele apaixonadamente as apoiou”. Um outro filósofo francês, Jean Baudrillard, retratou os islamistas como se estes fossem escravos rebelando-se contra a ordem repressiva. Em 1978, Foucault chamou o Aiatolá Khomeini de “santo” e, um ano mais tarde, Andrew Young, embaixador na ONU do governo Jimmy Carter, chamou-o de “um tipo de santo”. Esta boa vontade pode parecer surpreendente, dadas as profundas diferenças entre os dois movimentos. Comunistas são ateus e os esquerdistas em geral, seculares; os islamistas executam ateus e impõem a lei religiosa. A esquerda exalta os trabalhadores; o islamismo privilegia os muçulmanos. Uma sonha com o paraíso dos trabalhadores; a outra, com um califado. Socialistas querem socialismo; os islamistas aceitam o livre mercado. O marxismo implica igualdade entre os sexos; o islamismo oprime as mulheres. Esquerdistas desprezam a escravidão, alguns islamistas a endossam. Como ressalta o jornalista Bret Stephens, a esquerda devotou “as últimas quatro décadas defendendo as exatas liberdades às quais o Islã se opõe: liberdades sexuais e reprodutivas, direitos gays, liberdade das normas religiosas, pornografia, várias formas de transgressão artística, pacifismo e assim por diante”. Tais discordâncias parecem anular as pequenas similaridades que Oskar Lafontaine, ex-presidente do Partido Social Democrata alemão, conseguiu encontrar: “O Islã depende da comunidade, o que o coloca em oposição extrema ao individualismo, que ameaça desmoronar no Ocidente. Além disso, do muçulmano devoto é requerido que divida sua riqueza com outros. Os esquerdistas também desejam ver os fortes ajudando os fracos”. A florescente aliança entre esquerdistas ocidentais e as fileiras islamistas é um dos mais perturbadores desdobramentos políticos de hoje, o que impede os esforços do Ocidente de proteger-se. Por que, então, a formação daquilo que David Horowitz chama de (unholy alliance) “aliança profana” entre esquerda e islamismo? Por quatro razões principais. Primeiramente, como explica o político britânico George Galloway, “o movimento progressista ao redor do mundo e os muçulmanos têm os mesmos inimigos”, ou seja, a civilização ocidental em geral e os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e Israel em particular, mais os judeus, os cristãos e os capitalistas internacionais. No Irã, de acordo com o analista político Saeed Leylaz, “o governo praticamente permitiu o funcionamento da esquerda desde há cinco anos, de modo a que confrontassem religiosos liberais”. Percebam estas palavras intercambiáveis: Harold Pinter descreve os Estados Unidos como “um país dirigido por um bando de lunáticos criminosos” e Osama Bin Laden chama o país de “injusto, criminoso e tirânico”. Noam Chomsky denomina os Estados Unidos como um “dos principais estados terroristas” e Hafiz Hussain Ahmed, um líder político paquistanês, considera os Estados Unidos “o maior estado terrorista”. A expressão desses atributos tão semelhantes é suficiente para convencer aos dois lados a deixar de lado suas muitas diferenças em favor da cooperação. Em segundo lugar, os dois lados partilham de alguns objetivos políticos. Uma gigantesca demonstração conjunta em 2003, em Londres, contra a guerra contra Saddam Hussein simbolicamente forjou a aliança. Ambos os lados querem: que as forças da coalizão percam no Iraque, que a Guerra a Terror se encerre, que o antiamericanismo se espalhe e que Israel seja eliminado. Eles concordam em relação ao multiculturalismo e à imigração em massa para o Ocidente. Eles cooperam quanto a esses objetivos em reuniões tais como a anual Conferência Antiguerra do Cairo, que congrega esquerdistas e islamistas para “forjar uma aliança internacional contra o imperialismo e o sionismo”. Em terceiro, o islamismo tem laços históricos com o marxismo-leninismo. Sayyid Qutb, o pensador islamista egípcio, aceitou a noção marxista de etapas da história, acrescentando apenas um pós-escrito islâmico a elas; ele previu que uma era islâmica eterna viria após o colapso do capitalismo e do comunismo. Ali Shariati, o intelectual chave por detrás da revolução iraniana de 1978-79, traduziu para o farsi (língua iraniana) Franz Fanon, Che Guevara e Jean-Paul Sartre. De maneira mais ampla, o analista iraniano Azar Nafisi observa que o islamismo “toma a sua linguagem, objetivos e aspirações tanto das mais crassas formas de marxismo quanto o faz da religião. Seus líderes são influenciados por Lenin, Sartre, Stalin e Fanon, tanto quanto o são pelo Profeta”. Saindo da teoria para a realidade, os marxistas vêem nos islamistas uma estranha realização de suas profecias. Marx previu que os lucros dos empreendimentos iriam entrar em colapso nos países industriais, levando os patrões a espremer os trabalhadores; o proletariado se empobreceria, se rebelaria e estabeleceria uma ordem socialista. Mas, ao invés disso, o proletariado dos países industriais tornou-se cada vez mais afluente, e seu potencial revolucionário murchou. Por um século e meio, observa o autor Lee Harris, os marxistas esperaram em vão pela crise do capitalismo. Então surgiram os islamistas, começando com a revolução iraniana, seguida do 11 de setembro e de outros ataques ao Ocidente. Finalmente o Terceiro Mundo tinha começado sua revolta contra o Ocidente, realizando as previsões marxistas – ainda que sob a bandeira errada e com objetivos imperfeitos. Olivier Besancenot, um esquerdista francês, vê os islamistas como os “novos escravos” do capitalismo e pergunta se não seria natural que “eles se unissem à classe trabalhadora para destruir o sistema capitalista”. Numa época em que o movimento comunista está em “decadência”, observam o analista Lorenzo Vidino e o jornalista Andrea Morigi, as “Novas Brigadas Vermelhas” da Itália de fato reconhecem o “papel principal dos clérigos reacionários”. Em quarto lugar, poder: islamistas e esquerdistas podem obter mais juntos do que poderiam separadamente. Na Grã-Bretanha, eles formaram em conjunto a Coalizão “Pare a Guerra”, cujo comitê diretor inclui representação de organizações tais como o Partido Comunista da Grã-Bretanha e a Associação Muçulmana da Grã-Bretanha. O Respect Party britânico mistura socialismo radical internacional com ideologia islamista. Os dois lados juntaram forças nas eleições do Parlamento Europeu de março de 2008 para oferecer listas comuns de candidatos na França e Grã-Bretanha, disfarçadas sob nomes de partidos que pouco revelavam. Os islamistas beneficiam-se particularmente do acesso, da legitimidade, da experiência e do poder de fogo que a esquerda lhes oferece. Cherie Booth, mulher do então primeiro-ministro Tony Blair, defendeu um caso na Corte de Apelação para ajudar uma garota, Shabina Begum, a poder usar o jibab, uma vestimenta islâmica, numa escola pública britânica. Lynne Stewart, uma advogada esquerdista, infringiu a lei norte-americana e foi para prisão por ajudar Omar Abdel Rahman, o sheik cego, a fomentar a revolução no Egito. Volkert van der Graaf, um fanático dos direitos dos animais, matou o político holandês Pim Fortuyn porque queria impedi-lo de transformar os muçulmanos em “bodes expiatórios”. Vanessa Redgrave custeou metade das £50,000 de fiança a fim de que Jamil el-Banna, um suspeito detido em Guantánamo, acusado de recrutar jihadistas para lutar no Afeganistão e Indonésia, pudesse sair repentinamente de uma prisão britânica; Redgrave descreveu sua ajuda como “uma profunda honra”, a despeito de ele ser procurado na Espanha por acusações relacionadas a terrorismo e de laços com a Al Qaeda. Numa escala maior, o Partido Comunista Indiano fez o trabalho sujo por Teerã ao atrasar por quatro meses o lançamento, a partir de uma base indiana, do TecSar, um satélite espião israelense. E os esquerdistas fundaram o Movimento Internacional de Solidariedade, para evitar que as forças de segurança de Israel protejam o país contra o Hamas e outros grupos terroristas palestinos. Escrevendo na revista inglesa The Spectator, Douglas Davis chama a coalizão de “uma dádiva para os dos lados. A esquerda, antes um minguante bando de comunistas, trotskistas, maoístas e castristas, estava se agarrando aos restos de uma causa gasta; os islamistas poderiam fornecer multidões e paixão, mas precisavam de um veículo que lhes desse um ponto de apoio no terreno político. Uma aliança tática tornou-se um imperativo operacional”. De maneira mais simples, um esquerdista britânico concorda: “Os benefícios práticos de trabalharmos juntos são suficientes para compensar as diferenças”. A florescente aliança entre esquerdistas ocidentais e as fileiras islamistas é um dos mais perturbadores desdobramentos políticos de hoje, um que impede os esforços do Ocidente de proteger-se. Quando Stalin and Hitler firmaram seu infame pacto em 1939, a aliança Vermelho-Parda apresentava um perigo mortal para o Ocidente e, na verdade, para a civilização como tal. Com menos dramaticidade, mas com não menos certeza, a coalizão de hoje apresenta a mesma ameaça. Tanto quanto há sete décadas, esta precisa ser revelada, rejeitada, resistida e derrotada.

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