segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Linha direta entre Lula e Fernando Henrique Cardoso evitou pedido de impeachment

Durante todo o primeiro mandato e parte do segundo, o presidente Lula teve uma linha direta de consultas com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, mantida por meio de conversas secretas dos então ministros Antonio Palocci, da Fazenda, e Márcio Thomaz Bastos, da Justiça. A linha direta funcionou com mais vigor no auge do escândalo do mensalão, quando os ministros pediram a Fernando Henrique para agir e evitar que a oposição descambasse para pedir o impeachment de Lula. Ele atendeu e se posicionou publicamente contra o impeachment. Os encontros foram confirmados ao jornal O Estado de S. Paulo pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, por Palocci e Bastos. Palocci confirmou que esteve pessoalmente com Fernando Henrique “pelo menos cinco vezes”; Bastos disse ter conversado com ele pessoalmente apenas uma vez, em junho de 2005, momento em que crescia a onda do impeachment. Mas os contatos por telefone foram bem mais freqüentes, confirmam os três. Palocci e Bastos asseguram que Lula sempre soube das conversas antes de elas ocorrerem e foi informado do seu resultado depois. Mais de uma vez, no entanto, em momentos de difícil enfrentamento com a oposição, Lula sugeriu a Palocci: “Vai conversar com Fernando Henrique”. E pelo menos uma vez, em dezembro de 2007, o presidente determinou expressamente que Palocci (então já fora do governo), procurasse Fernando Henrique Cardoso para negociar o projeto de reforma política que pretendia enviar ao Congresso no começo de 2008. Fernando Henrique elogiou Palocci e Bastos para o jornal O Estado de S. Paulo, confirmou as conversas e disse que elas foram possíveis porque os dois ex-ministros de Lula têm “noção institucional”. Estendeu o elogio ao chefe de gabinete Gilberto Carvalho: “Esse também tem noção institucional”. Mas, lamentou que a linha de consulta tenha sido interrompida em 2008. Lamentam também os brasileiros, que deixaram de ser consultados sobre esses acordos que o PSDB fazia com o PT. Não é de estranhar o estado a que chegaram as coisas na república petista e no governo Lula.