quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Depoimento do ministro Nelson Jobim na CPI dos Grampos reforça a disputa com o general Félix

A confirmação pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, à CPI dos Grampos, de que a Abin tem equipamentos de escuta telefônica, aumentou a disputa política entre ele e o ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI), general Jorge Félix. O confronto surgiu depois que o presidente Lula afastou a cúpula da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) em função de documento apresentado pelo ministro da Defesa, segundo o qual a instituição tem equipamentos para fazer interceptações telefônicas. Félix e os diretores afastados da Abin negam que a agência tenha essa capacidade. A crise foi causada pela denúncia de que agentes da Abin teriam grampeado autoridades dos três poderes. Jobim reafirmou à CPI de Escutas Telefônicas Clandestinas da Câmara (CPI dos Grampos) que o GSI teria encomendado à comissão de compras do Exército em Washington a aquisição desses aparelhos para a Abin. "O Exército não comprou para si. Comprou a pedido do GSI", disse Nelson Jobim para os deputados federais que integram a comissão, depois de entregar à CPI uma cópia do documento produzido pelo Exército com a lista dos equipamentos adquiridos pela Abin. O ministro da Defesa minimizou, entretanto, a importância da informação. Segundo Jobim, a causa do afastamento da cúpula da Abin foi a informação de que agentes da agência participaram da Operação Satiagraha, que prendeu o banqueiro Daniel Dantas, o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta e o investidor Naji Nahas. "A Abin não pode participar de investigações de crimes comuns. Os serviços de inteligência devem suprir o Palácio do Planalto com informações de interesse para a segurança nacional", acrescentou ele. E disse mais: "Não pode investigar crime comum. Logo, precisa ser investigada. Para ser investigada, tinha que ser afastado o corpo diretivo da Abin”. Um dos momentos de tensão da CPI ocorreu quando o deputado federal Vanderlei Macris (PSDB-SP) questionou se o ministro sabia do resultado da perícia feita por técnicos do Exército, a pedido do general Félix, para verificar se os equipamentos da Abin realmente podiam fazer grampos. Macris afirmou que Félix havia garantido, nesta quarta-feira, em depoimento à Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência, que Jobim recebera o relatório. O ministro negou: "Não tenho conhecimento. Não o recebi. Logo, não posso provar um fato negativo. Cabe ao general Félix provar o fato positivo". Jobim negou que as Forças Armadas possuam equipamentos para fazer interceptações telefônicas, mas apenas de varredura.