quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Lobista gaúcho Lair Ferst, acusado de desvio no Detran, muda versão e ameaça governadora Yeda Crusius

O lobista Lair Ferst, réu no processo judicial que tramita na 3ª Vara Federal de Santa Maria, o qual julga a enorme fraude que desviou mais de R$ 44 milhões do Detran do Rio Grande do Sul durante o governo Germano Rigotto (PMDB) e nos primeiros seis meses do governo de Yeda Crusius (PSDB), começou a mudar radicalmente a sua versão dos fatos. Em vias de tomar uma pesada condenação até dezembro deste ano, ele parece estar negociando com o Ministério Público Federal um abrandamento das acusações e de sua pena, e começou a mudar versão do que vinha declarando até agora. Em uma bombástica entrevista para o jornal Folha de S. Paulo, dada aos repórteres Ana Flor e Graciliano Rocha, o lobista Lair Ferst (ex-filiado ao PSDB, partido do qual se afastou na semana passada, junto com sua mulher, a ex-miss Brasil Deisi Nunes) envolveu, pela primeira vez a governadora Yeda Crusius na fraude, desde que começou o escândalo, no dia 6 de novembro do ano passado. Lair Ferst disse, com todas as letras, que foi uma decisão da cúpula do governo Yeda Crusius reestruturar o esquema de desvio de recursos do Detran que estava em curso desde o início do governo Germano Rigotto (PMDB). A Folha de S. Paulo informa que o lobista Lair Ferst está em negociação com o Ministério Público Federal e com a Justiça Federal para denunciar e implicar consistentemente cerca de dez nomes de integrantes e ex-integrantes do primeiro escalão do governo gaúcho, o atual e o anterior, além de pessoas com foro privilegiado (casos de deputado federal e de conselheiros do Tribunal de Contas, além de deputados estaduais), em troca da retirada de parte das acusações contra ele. Se alguém sabe, em profundidade, como aconteceu esta tão prolongada fraude do Detran do Rio Grande do Sul, que criou alguns milionários, esse alguém é justamente Lair Ferst. Ele é uma espécie de intrujão do submundo da política gaúcha, com especial faro para cheirar oportunidades de grandes ganhos na área pública. Lair Ferst é originário da escolinha da antiga “Arena Jovem”, onde teve a companhia de personagens que ganharam destaque na política gaúcha (como Flávio Vaz Neto e Carlos Ubiratan dos Santos, ex-presidentes do Detran, respectivamente, nos governos de Yeda Crusius e Germano Rigotto, e o deputado federal José Otávio Germano, o mais destacado e bem sucedido, no momento, antigo membro da escolinha da Arena Jovem). Foi lá, nessa escolinha, que ele conviveu durante muitos anos com “Tete” Rigotto, o irmão do ex-governador Germano Rigotto. Ele também se insinuou no âmago da vida partidária gaúcha ao se tornar um fiel escudeiro do falecido deputado federal Nelson Marchezan (Arena), ex-todo-poderoso da política nacional (foi líder no Congresso Nacional do último governo da ditadura militar – João Figueiredo). Lair Ferst era a sombra de Marchezan. É isso que explica que ele tenha sido contratado como assessor da Fatec (fundação de direito privado ligada à Universidade Federal de Santa Maria, sobre a qual a reitoria tem ingerência direta, por força de estatuto). Daí a ligação de Lair Ferst com a Pensant, empresa de consultoria de José Fernandes. Este personagem é igualmente de Santa Maria, foi diretor geral da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul na presidência do ex-deputado estadual Renan Kurtz (do PDT de Santa Maria) e presidente da Caixa Econômica Estadual no governo de Alceu Collares (PDT). A Pensant de José Fernandes era o verdadeiro eixo central da fraude do Detran-RS. É pela mesma razão que Lair Ferst acabou vinculado com a prefeitura de Canoas, do prefeito Marcos Ronchetti (PSDB). Afinal, o grande eleitor de Ronchetti foi Nelson Marchezan. Quando este morreu, Ronchetti passou para a órbita do deputado federal Eliseu Padilha (PMDB). Assim, também não é de estranhar que a Pensant igualmente tivesse tido as portas abertas da prefeitura de Canoas nas gestões de Marcos Ronchetti. As novas informações que Ferst promete acrescentar se referem à chamada "fase dois" da fraude, quando o Detran substituiu, em maio de 2007, a Fatec pela Fundae, ambas fundações ligadas à Universidade de Santa Maria. As investigações apontam que a troca ocorreu para retirar as empresas da família Ferst do esquema e beneficiar empresas ligadas a integrantes do aliado PP. Ou seja, Lair Ferst quer fazer uma entregação do que ocorreu em pleno governo Yeda Crusius, quando ele, membro do PSDB, foi afastado do esquema da fraude. Ele não quer falar do período em que esteve envolvido, até porque insiste que a atuação de suas empresas foi legítima. Diz ele agora, para a Folha de S. Paulo: “Procurei não potencializar essa relação em razão do clima quente do debate político que se travou na CPI da Assembléia Legislativa, eu não achava que era conveniente servir de munição para a oposição”. Agora, Ferst afirma que era amigo da governadora e que foi recebido mais de uma vez por Yeda Crusius depois da posse. Segundo ele, a reestruturação da fraude, com a troca de fundações, foi decisão política do governo: "É público e notório que houve o envolvimento da governadora nesse processo". O empresário afirma que as informações que prestará ao Ministério Público Federal envolverão pessoas próximas a Yeda Crusius. É evidente que ele está se sentindo pressionado e que não está gostando da situação. É duplamente evidente que ele é seguido, ouvido e gravado constantemente, e que há um cerco em torno dele, o que o está desagradando e desgastando. E, de todos os réus, ele é, efetivamente, o que tem menor cobertura política, e afeito a levar as maiores culpas. Os gaúchos têm todos os motivos para esperar por emoções muito fortes até o dia 5 de outubro. A fase dos escândalos ainda não se encerrou.

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