terça-feira, 12 de agosto de 2008

Finalmente, João Luiz Vargas sai da presidência do Tribunal de Contas do Rio Grande do Sul

O presidente do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul, conselheiro João Luiz Vargas, finalmente se convenceu de que sua permanência no comanda da Corte era altamente inadequado, em face das acusações que o vinculam ao escândalo da fraude milionária no Detran, e resolveu comunicar seu afastamento aos colegas no início da tarde desta segunda-feira. Ele convocou os seis conselheiros e quatro substitutos de conselheiros (um deles, Cesar Santolim, também enroscado no escândalo do Detran) para dizer que estava se licenciando da presidência e entrando em férias, enquanto o pedido para investigá-lo, feito pelo Mistério Público estadual, tramita junto ao Procurador Geral da República. Demorou muito para João Luiz Vargas admitir que estava “constrangendo os colegas e o tribunal”, conforme disse em nota oficial para justificar o seu afastamento da presidência. João Luiz Vargas se tornou na demolição da imagem do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul, uma instituição desmoralizada, sobre a qual recaem as mais pesadas suspeitas, de toda ordem, em todos os níveis. Inclusive validação de suspeitíssimo concurso para admissão de funcionários de nível médio. No lugar de João Luiz Vargas deve assumir o vice-presidente, Porfírio Peixoto. Os dois têm origem no mesmo partido, o PDT, que os indicou para membros da corte. Ao sair da reunião, João Luiz Vargas tentou explicar, e o fez da maneira mais inconvincente, os estranhos diálogos que manteve com Antonio Dorneu Maciel, em telefonemas grampeados com ordem judicial (Justiça Federal). Esses telefonemas foram divulgados no final de semana passada pelo Mistério Público estadual, quando este anunciou que estava representando ao Procurador-Geral da República, Antonio Fernando de Souza, pedindo autorização para investigar João Luiz Vargas e também o deputado federal José Otávio Germano (PP). Nesses telefonemas, os personagens abusaram no uso de imagens para representar os personagens sobre os quais estavam se referente. Assim, João Luiz Vargas era o “Papai Noel”. Certamente pela longa barba branca que usa. Vermelho é Carlos Ubiratan dos Santos, o “Bira Vermelho”, ex-presidente do Detran (no governo de Germano Rigotto, do PMDB), um dos notórios membros da “Arena Jovem”; “Caxias” é Francisco Turra, também do PP, ex-ministro da Agricultura, e ex-presidente do partido no Rio Grande do Sul. Veja os termos de um desses telefonemas:
João Luiz Vargas — Alô?
Antônio Dorneu Maciel — Oi.
Vargas — Oi, querido, vi que tu tava me ligando.
Maciel — Tudo em paz?
Vargas — Tudo em paz. Conversei com Caxias ontem.
Maciel — Sim.
Vargas — Quer viajar.
Maciel — Ótimo.
Vargas — Tá?
Maciel — Ótimo. Quer viajar, ótimo.
Vargas — Tá?
Maciel — Então, vamos providenciar.
Vargas — Ele sai imediatamente. E conversei com o Campeão, ontem de manhã, só não recebi os livros que ele ia me entregar.
Maciel — Mas acertou?
Vargas — Não, ele disse que semana que vem a gente evolui.
Maciel — É?
Vargas — Aí eu falei que tu já tinha entregue aqueles primeiros cadernos.
Maciel — Sim.
Vargas — Tá?
Maciel — Mas não dá folga pra ele, não deixa ele solto.
Vargas — Tá, (inaudível). Tu vai lá no Nosso Filho mais tarde?
Maciel — Vou, que horas que nós vamos nos encontrar lá?
Vargas — Não, não sei, porque hoje eu tenho Pleno. Eu tenho...
Maciel — Que horas tem Pleno?
Vargas — Tem uma e meia. Uma e meia.
Maciel — Espera aí, um pouco. Espera, deixa eu só espirrar, só um pouquinho.
Vargas — Tá.
Maciel — (dois espirros) Por que não dá uma passadinha tipo onze e meia lá?
Vargas — Vamos ver se vamos. Vamos ver.
Maciel — Que que tu acha?
Vargas — Acho ótimo.
Maciel — Então, tá. Eu vou estar lá onze e meia.
Vargas — Tá bem. Tá.
Maciel — Beijo.
Vargas — Beijo. Tchau.
Maciel — (espirro)
O Mistério Público, que nada fez para investigar a longuíssima roubalheira no Detran gaúcho, apesar de ter recebido uma denúncia formal, por escrito, do delegado Luiz Fernando Tubino (ex-chefe da Polícia Civil do Rio Grande do Sul), e que agora procura aparecer como se estivesse fazendo um grande serviço, está convencido de que as referências a “cadernos” e “livros” são menções explícitas a propina. João Luiz Vargas saiu do Tribunal de Contas, na tarde desta segunda-feira, dizendo: “Ao longo da minha vida eu aprendi que os códigos não fazem parte do meu vocabulário. Cadernos são cadernos e livros são livros”.
Ora, se há uma coisa com a qual João Luiz Vargas se acostumou, durante boa parte de sua vida, foi com a linguagem dos códigos e senhas, já que ele é maçom graduado. A iniciativa do Mistério Público estadual também gerou uma grande indignação na Procuradoria Geral da República. Seus membros entendem que os promotores e procuradores do Mistério Público gaúcho estão tentando passar a idéia de que seus colegas federais são “vagabundos”, “preguiçosos” ou “covardes”, por terem deixado de pedir providências contra João Luiz Vargas e o deputado federal José Otávio Germano. Mais grave ainda: o sentimento geral é de que essa iniciativa do Mistério Público faz parte de uma trama para embaralhar toda a investigação da Operação Rodin e o conseqüente processo crime que tramita na 3ª Vara Federal Criminal de Santa Maria, sob o comando da juíza Simone Barbisan Fortes. Agora é que a coisa está fervendo. E vai ferver muito mais. As entranhas do Mistério Público gaúcho serão expostas.

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