sábado, 1 de março de 2008

Economista da FGV diz que aumento do salário mínimo não é eficaz na distribuição de renda

Há dez anos, o aumento do salário mínimo tinha impacto muito forte na redução da pobreza, mas hoje os dados analisados pelos institutos de pesquisa mostram que boa parte dos efeitos positivos desse aumento foi perdida. A avaliação é do economista Marcelo Néri, da Fundação Getulio Vargas (FGV), Marcelo Néri. Ele explica que o aumento exerce tanto efeitos positivos quanto negativos na economia e alertou que nas áreas pobres pode causar mais desemprego e informalidade do que o próprio ganho conquistado. “Tanto pode aumentar o salário das pessoas como fazer com que elas percam o emprego ou a carteira de trabalho No lado fiscal, melhora a renda de mais de 12 milhões de pensionistas e aposentados do INSS, aquece a economia local, mas por outro lado tem um impacto importante nas finanças municipais, já que existe maior proporção de funcionários públicos municipais atrelados ao mínimo do que no próprio segmento de empregadas domésticas”, disse ele. Néri informou que o impacto nas contas públicas com a Previdência equivale a aproximadamente 12% do Produto Interno Bruto. E disse que foram criados mecanismos alternativos mais eficazes para diminuir a pobreza: “O caminho do salário mínimo é um caminho mais longo, mais tortuoso, mais indireto, que não pega tanto os mais pobres. Há dez anos, além de o salário mínimo estar num nível muito mais baixo, não havia esses caminhos alternativos, verdadeiros atalhos para a redução da pobreza”. Segundo o economista, atualmente, o impacto do Bolsa Família é bem maior que o do salário mínimo sobre a população pobre: “Cada real que se gasta em aumento do Bolsa Família impacta a pobreza duas vezes e meia mais do que cada real que se gasta em salário mínimo”. Para ele, não se investe na população jovem e se deixa para compensá-la na velhice: “As pessoas vivem vidas miseráveis e no final tenta-se compensá-las. Acho que essas pessoas merecem uma condição melhor de vida, sem dúvida. Agora, a gente não pode deixar de lado as gerações mais novas. Mas a bandeira das crianças não é uma bandeira politicamente muito forte, porque criança não vota. Uma em cada cinco crianças é pobre, enquanto essa taxa é sete vezes menor entre os idosos. Então, é uma opção que o Brasil fez, mas está na hora de se fazer uma opção pelas crianças”.

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